Correio braziliense, n. 20921, 03/09/2020. Mundo, p. 12

 

Moscou reforça apoio a autocrata bielorrusso

03/09/2020

 

 

O Kremlin confirmou, ontem, a visita do primeiro-ministro russo, Mikhail Mishustin, e um encontro entre Vladimir Putin e Alexander Lukashenko. O anúncio representa o tácito apoio de Moscou ao autocrata bielorusso, em meio a uma onda de protestos que sacode a capital, Minsk, e se espalha para o interior. Mishustin é aguardado hoje, em Minsk, para a primeira visita oficial de uma autoridade russa dessa categoria desde o início da crise política na Bielorrússia, que se arrasta há quase um mês.

Aos 66 anos, Lukashenko está no poder desde 1994 e recusa-se a dialogar com os críticos, apesar de manifestações quase diárias, algumas delas gigantescas, para denunciar sua reeleição. A oposição classifica como fraudulenta a sua vitória na eleição presidencial de 9 de agosto. Até agora, Lukashenko apenas mencionou a vaga ideia de uma revisão constitucional para responder à insatisfação popular. A abordagem de Minsk é considerada adequada por Moscou, enquanto a repressão se mantém.

Ao receber o homólogo bielorrusso, Vladimir Makei, em Moscou, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, informou que Lukashenko será recebido pelo presidente Vladimir Putin “nas próximas duas semanas”. Ele também denunciou as tentativas de desestabilização da Bielorrússia, além das declarações “destrutivas” da Ucrânia, da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e da União Europeia (UE). Lavrov considerou “intolerável” a ideia de mediação estrangeira entre o poder e a oposição, excluindo qualquer diálogo com esta última.

Por sua vez, Makeu saudou o posicionamento “ponderado” de Moscou. A Rússia tem mostrado sinais crescentes de apoio ao presidente bielorrusso, à medida que ele intensifica os ataques, denunciando uma conspiração ocidental contra seu governo. As relações entre a Rússia e a Bielorrússia estiveram tensas na primavera e no começo do verão. Lukashenko chegou a acusar Putin de tentar expulsá-lo do poder para controlar seu país.

O autocrata bielorrusso agradeceu, de modo efusivo, pelo apoio da emissora de televisão pública russa RT — a qual o Ocidente considera uma arma de propaganda do Kremlin. O homem-forte da Bielorrússia também proclamou publicamente que “nunca se afastou da Rússia”, ao argumentar que os bielorrussos e os russos têm uma única e mesma “pátria”.