Título: Ações da Petrobras fazem bolsa derreter
Autor: Hessel , Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 07/02/2013, Economia, p. 13

As ações da Petrobras continuam puxando o Índice Bovespa para baixo. Dois dias depois de a companhia anunciar o pior lucro dos últimos oito anos, os papéis preferenciais (sem direito a voto) da estatal despencaram 2,65%, fechando ontem a R$ 17,60. A desvalorização acumulada no ano está perto de 10%. Já as ações ordinárias (com direito a voto) recuaram 1,27%, cotadas a R$ 16,39.

O indicador da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) recuou 0,83% ontem, encerrando a 58.951 pontos. Foi a terceira queda consecutiva, com o nível do Ibovespa descendo ao menor patamar dos últimos dois meses. Além da forte influência dos papéis da Petrobras para o desempenho, pesou a desconfiança dos investidores na capacidade de recuperação da economia brasileira e o descontentamento com a intervenção governamental na estatal.

As interferências do governo na gestão da Petrobras, congelando o preço da gasolina para ajudar no controle da inflação, mexe com o humor do mercado. O reajuste concedido em janeiro não foi suficiente para reverter os prejuízos dos últimos anos devido à importação do combustível a preços mais altos que o de venda no país. Logo, a presidente da companhia, Maria das Graças Foster, deverá continuar pressionando o Planalto para que sejam autorizados novos reajustes, acompanhando a cotação internacional do petróleo. Sem isso, segundo os analistas e a própria Foster, a companhia não conseguirá executar o plano de investimentos previstos para este ano, que soma R$ 97,7 bilhões.

Fora da carteira A falta de confiança na Petrobras tem afastado investidores. O sócio da DX Investimentos, Felipe Chad, por exemplo, já não recomenda a compra de papéis da estatal para seus clientes. “Eles não fazem parte da carteira da corretora há muito tempo”, disse. Segundo ele, os fundos mais rentáveis do mercado não olham para a empresa há 36 meses. “Há muita imprevisibilidade sobre os planos da companhia. Ninguém sabe o que vai acontecer. O governo não dá sinais positivos. O ministro (Guido) Mantega (da Fazenda), a cada hora, fala uma coisa. O mercado não gosta disso”, explicou.

De acordo com Chad, a forte queda nos papéis da empresa é resultado da preocupação dos analistas em relação à da nova estatal que vai gerir as bacias do pré-sal. O assunto voltou a ser discutido pelo mercado após a divulgação do balanço da Petrobras. “Isso implicará em tirar o filé-mignon da companhia”, completou. Procurada, a assessoria da petrolífera informou que não tem informações sobre essa nova estatal.

Atualmente, a Petrobras é a segunda maior empresa brasileira de capital aberto em valor de mercado, abaixo da Ambev e à frente da Vale; mas já foi a primeira. “O problema é que a interferência do governo na economia é mais presente na companhia e recrudesceu desde o segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, comentou o economista da Planner Corretora, Demetrius Lucindo.

Ele afirma que o aumento da gasolina não refrescou os problemas da companhia e, principalmente, não melhorou a imagem da empresa frente aos investidores. A situação ainda piora devido aos problemas gerais da economia. Na avaliação de Lucindo, a imagem do Brasil no exterior só tem piorado, o que dificulta a atração de investimentos. “Vai ser muito difícil para o ministro Mantega transmitir credibilidade aos investidores no exterior durante o road show que ele pretende fazer a partir do dia 26, passando por Nova York, Londres, Tóquio, e, possivelmente, por Pequim e Berlim. “Um ministro da Fazenda precisa transmitir credibilidade e ter atitude para tomar decisões certas quando elas são necessárias, o que não vem acontecendo”, afirma ao referir-se às intervenções na Petrobras.

Valendo cada vez menos

O valor de mercado da Petrobras está cada vez menor. Conforme levantamento da Consultoria Economática, com o tombo das ações, a estatal está cotada em bolsa de valores a R$ 224,8 bilhões, o correspondente a 65,5% de seu patrimônio líquido. “Não se via essa desvalorização desde 3 de março de 1999”, informou o economista Einar Rivero. Em 8 de março de 2011, a companhia valia R$ 413,3 bilhões.