Título: Eólica fica competitiva
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 14/02/2013, Economia, p. 7

Com a matriz energética mais suja e cara, devido ao uso intensivo das usinas térmicas, a implantação de parques de aerogeradores ganha impulso e pode colocar o Brasil entre os 10 maiores do setor até 2020

A escassez de chuvas e as falhas de planejamento encareceram e sujaram a matriz energética brasileira, famosa no mundo pelo uso predominante de fontes renováveis. Para acompanhar o crescimento acelerado do consumo nos últimos anos, o país foi forçado a recorrer ao aumento da presença dos combustíveis fósseis na geração elétrica, que dobraram sua participação no sistema interligado nacional, saltando de 6% em 2001 para 14% no ano passado. O lado positivo dessa crise é que ela poderá dar um novo impulso para a energia eólica, segmento ainda pouco explorado, cujos preços já estão competitivos em razão dos leilões promovidos pelo governo.

O efeito concreto do acionamento de todas as usinas a óleo, carvão e gás desde outubro do ano passado, realidade que deverá ser mantida pelo menos até abril, será melhor dimensionado nas contas de luz em 2014. Conforme o modelo em vigor a partir deste ano, os gastos maiores que as distribuidoras tiverem em razão das térmicas serão cobrados da clientela no ano seguinte. De março em diante, os usuários serão avisados nas tarifas desse impacto futuro, via bandeiras tarifárias (verde, amarela e vermelha). Elas servirão como sugestão para se consumir menos quando a cor do sinal for desfavorável.

“Acreditamos que, devido à preocupação do governo de não sofrer constrangimentos durante a Copa do Mundo de 2014, as térmicas irão funcionar até dezembro para reforçar o estoque de água nos reservatórios das hidrelétricas. Com isso, teremos um ano inteiro de bandeira vermelha”, comentou Carlos Mathias Becker, presidente da Renova Energia, líder nacional em energia eólica contratada.

Bons ventos Na semana passada, a Renova anunciou parceria estratégica com a francesa Alstom, indústria de equipamentos de geração elétrica, para fabricar aerogeradores no Brasil. Serão investidos 1 bilhão de euros para fornecer em até quatro anos 440 unidades geradoras, a serem instaladas em parques no interior do Brasil. Sua capacidade somada é de 1,2 gigawatts (GW), próxima da atual disponibilidade eólica nacional.

“Em razão das excepcionais vantagens naturais dos ventos constantes na região de Caetité (BA), conhecida por mina de ouro da geração eólica, e dos leilões, já obtivemos a energia mais barata do mundo”, aposta Becker. Ele ressalta que a demanda energética do país cresceu 3% no ano passado, cerca de três vezes mais que a economia, estimulando investimentos. “Temos energia confiável e entregue no prazo, essencial ao momento do país”, observou.

As concessionárias eólicas resistiram às sacudidas no mercado elétrico em 2012, provocadas pela renovação antecipada e condicionada de contratos de transmissão e geração hidrelétrica, e mantiveram intactos os planos de investimento. “As novas regras não afetaram nossos negócios com a mesma intensidade que abalou o resto do setor e vamos continuar o cronograma previsto para 2013”, informou Juan Carlos Fernandez, vice-presidente da IMPSA Energy, ao Correio.

A empresa espera avançar também na fabricação de equipamentos e de tecnologias próprias voltadas à geração dos ventos. Ele ressaltou que a companhia vai continuar colaborando com a diversificação da matriz energética e, para isso, deverá alcançar R$ 5 bilhões em investimentos até 2014. A Energimp, controlada do grupo argentino IMPSA, acabou de inaugurar seu 14º parque eólico, no Ceará.

Para o presidente mundial do setor de energias renováveis da Alstom, Jérôme Precresse, a presença da energia eólica na matriz brasileira subirá dos atuais 2% para 10% em 2020, colocando o Brasil no clube dos 10 maiores mercados de geração eólica.

* O repórter viajou a convite da Renova Energia