Título: Ano mal-assombrado
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 14/02/2013, Economia, p. 8

Problemas persistem e mercado financeiro prevê PIB ainda fraco

O governo retoma as atividades nesta quinta-feira pós-Carnaval ainda assombrado pelo baixo crescimento do ano passado. Temerosos de que os problemas se repitam, mas com poucas opções, integrantes da equipe econômica têm insistido no discurso de que só o que falta para a economia é tempo. “As medidas estão demorando mais do que o esperado para surtir efeito, mas elas vão aparecer”, garante um técnico do governo. A fala, porém, é a mesma de meados de 2012, quando se esperava uma reação espetacular da economia e ela não veio. Para representantes do setor produtivo e participantes do mercado, apesar do discurso governamental, é preciso urgência na retomada, sobretudo em relação aos investimentos.

“O Brasil cresce a duas velocidades. Os setores ligados à renda vêm tendo um desempenho bastante satisfatório, consequência direta do mercado de trabalho bastante apertado, já os investimentos não decolam”, disse Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil. Diante dessa perspectiva, as expectativas do mercado continuam a piorar. Dados do boletim semanal Focus, divulgados ontem pelo Banco Central, trazem mais uma revisão para baixo na projeção para o PIB. O indicador, que começou o ano passado com uma previsão de 4,25% para 2013, chegou nesta semana a 3,09%. Parte dessa piora, segundo analistas, se deve à lentidão do poder público na gestão de investimentos.

Parlamento Enquanto o ano não começa para o Congresso e os parlamentares atrasam ainda mais a aprovação do Orçamento, os investimentos ficam travados no país e o PIB não anda. Gestores públicos que poderiam ter começado 2013 com liberações de verbas para infraestrutura se encontram inibidos pela letargia do parlamento. Mesmo com uma medida provisória que garante recursos, eles temem problemas com o Tribunal de Contas da União (TCU) e devem abrir os cofres apenas depois da aprovação oficial dos recursos.

Com o setor público travando investimentos, a iniciativa privada também se retrai e espera momentos de mais certeza para tirar projetos da gaveta. Não à toa o parque fabril brasileiro encontra-se com cerca de 20% de ociosidade e sem perspectiva de melhorar o desempenho. As projeções para a produção industrial também seguem em constante piora. Entre as duas últimas divulgações do Focus, o indicador encolheu 0,07 ponto percentual, caiu de 3,17% para 3,10%. Os números de produção de bens de capital, equipamentos usados para produção, derreteram em 2012, com retração de 11,79%, e ainda não deram sinal de recuperação.

Para integrantes do mercado, o Banco Central assumiu um duplo mandato e, se a inflação tem de ser uma preocupação, a retomada do investimento não pode ser esquecida. Analistas alertam que se o país não voltar a crescer, o cenário de pleno emprego e de expansão da renda, que tem permitido à classe média ficar tranquila em meio às preocupações do governo, pode ficar ameaçado.