Título: Coreia do Sul reage a teste
Autor: Valente, Gabriela Freire
Fonte: Correio Braziliense, 14/02/2013, Mundo, p. 15

Enquanto líderes ocidentais convocam representantes norte-coreanos para repreender o governo de Kim Jong-Un pelo terceiro teste nuclear, a Coreia do Sul reforçou seu arsenal de mísseis para alcançar todo o território do país vizinho. Além disso, Seul vai instalar um sistema capaz de destruir mísseis norte-coreanos. Com a medida, o governo sul-coreano — que já havia triplicado o alcance de seu armamento em outubro passado — adquire capacidade para ataques preventivos. “Vamos acelerar o desenvolvimento de mísseis balísticos com alcance de 800 quilômetros”, informou, ontem, Kim Min-Seok, porta-voz do Ministério da Defesa. “As Forças Armadas estão observando de perto o Norte, para evitar novos atos de provocação”, advertiu.

De acordo com o jornal The New York Times, a Casa Branca — que já tem 28,5 mil homens na Coreia do Sul — reafirmou que o país está sob o “guarda-chuva” americano para o caso de um ataque nuclear. Ontem, o secretário de Defesa, Leon Panetta, conversou com seu colega sul-coreano, Kim Kwan-Jin, sobre “ações coordenadas imediatas” em resposta à atitude de Kim Jong-Un, que Barack Obama classificou como “altamente provocativa”. O secretário de Estado americano, John Kerry, reiterou o pedido de resposta internacional feito por Obama na terça-feira, e acrescentou que a reação também servirá para o caso iraniano. “Assim como é inadmissível que a Coreia do Norte mantenha estes esforços irresponsáveis, é inadmissível também em relação ao Irã e nossa resposta a isso terá impacto em todas as outras tentativas de proliferação (nuclear bélica)”, alertou.

O Reino Unido e a Alemanha, por sua vez, convocaram os embaixadores norte-coreanos para expressar firme condenação ao teste nuclear. “É uma clara violação das resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Apoiamos medidas mais rigorosas”, declarou o chanceler britânico Hugo Swire. Segundo a agência Jiji Press, Japão e Coreia do Sul, que preside o Conselho este mês, unirão forças para aplicar sanções mais duras ao regime de Kim Jong-Un. Ban Ki-Moon, secretário-geral da ONU, mostrou-se preocupado “acerca do impacto (dos testes norte-coreanos) na estabilidade regional e dos esforços mundiais para reduzir a proliferação nuclear. Foi um ato ultrajante e imprudente”, declarou, diante da Organização dos Estados Americanos (OEA) em Washington.

Para Alexandre Ratsuo Uehara, das Faculdades Integradas Rio Branco, além do temor sobre a producão de ogivas nucleares pequenas o suficiente para serem acopladas a mísseis pela Coreia do Norte, a situação se agrava com as tensões entre China e Japão, que disputam a soberania de um arquipélago no Mar da China Meridional. “Os chineses são aliados da Coreia do Norte e tendem a apoiá-la. Uma ação menos responsável dos norte-coreanos pode gerar um conflito entre diversos países”, explicou. Apesar de aliada, a China se opõe aos testes nucleares e pode dialogar com o regime stalinista. “É o único país com proximidade para negociar e não seria beneficiada por uma intervenção internacional”, avaliou.

Acordo à vista

O Irã, que enfrenta sanções por causa de seu programa nuclear, chegou a um acordo sobre “alguns pontos” com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Ontem, a instituição ligada à ONU foi pela terceira vez em três meses a Teerã para tentar elaborar um “acordo-quadro” que permita investigar uma eventual dimensão militar do polêmico programa nuclear iraniano. “Divergências foram resolvidas e um acordo sobre certos pontos das modalidades (deste quadro) foi concluído”, anunciou Ali Asghar Soltanieh, representante iraniano na AIEA. Soltanieh não indicou o conteúdo do acordo, mas informou que “as duas partes devem estudar as novas propostas e se reunir para mais uma reunião”. A AIEA quer maior acesso a locais, documentos e indivíduos que esclareçam os pontos levantados em um relatório de 2011 sobre elementos que indicariam que o Irã trabalhou no desenvolvimento de armas atômicas antes de 2003. O governo de Mahmoud Ahmadinejad rejeitou o documento e continua a negar as acusações de que tenta desenvolver armas nucleares com a alegação que investe em um programa com fins civis.