O globo, n. 31782, 12/08/2020. Mundo, p. 28

 

Mulher, negra e promotora

12/08/2020

 

 

Joe Biden escolhe senadora da Califórnia como companheira de chapa para enfrentar Trump

 Depois de semanas de suspense, o candidato democrata à Presidência dos EUA, Joe Biden, confirmou o nome da senadora negra Kamala H arrisco mo sua companheira de chapa na disputa com Donald Trump pelo controle da Casa Branca nos próximos quatro anos. Em postagem no Twitter, Biden afirmou ter a “grande honra deter escolhido Kamala Harris, uma lutadora destemida pelos humildes e uma das melhores servidoras públicas do país”.

Coma escolha d eH arris,Biden busca atrair os votos dos negros, das mulheres e dos eleitores mais progressistas do partido, sem o risco de antagonizar os centristas, já que a senadora de 55 anos fez carreira como promotora de Justiça, criando a reputação de ser dura contra a criminalidade.

Na postagem, Biden lembrou que Harris —que chegou a fazer campanha como pré candidata à Presidência—trabalhou com seu filho Beau na Procuradoria Geral da Califórnia,e que acompanhou de perto seu trabalho. Beau Biden morreu em 2015, aos 45 anos, vítima de um tumor no cérebro, um evento que marcou a trajetória do então vice de Barack Obama e provocou comoção nacional.

DEFESA DE REFORMA POLICIAL

Em sua primeira reação, no Twitter, Harris afirmou que Biden “poderá unir os americanos porque passou sua vida lutando por eles. Como presidente, construirá um país à altura de seus ideais”. Ela disse, ainda, estar honrada por se juntar à campanha como indicada a vice, e que fará o possível para eleger Biden presidente.

Senadora pela Califórnia e uma das principais políticas negras no Congresso, Kamala Harris, descendente de imigrantes da Jamaica e da Índia, chegou a demonstrar força nos momentos iniciais da disputa democrata pela indicação à Presidência, com ataques contundentes a Biden, a quem criticou por ter trabalhado bem com senadores que defendiam a segregação racial.

Sua campanha, porém, chegou ao fim mesmo antes das primeiras primárias, e apenas em março, depois da desistênciada senadora ElizabethWarren, da ala esquerdado partido, ela endossou a candidatura de Biden à Casa Branca.

Como congressista, Harris defendeu reformas no sistema policial dos EUA, com foco no racismo sistêmico nas forças de segurança. Por outro lado, suas ações vistas como lenientes em casos de violência policial, quando atuou como promotora, são levantadas com certa frequência por ativistas do movimento negro.

—É uma escolha inteligente do ponto de vista eleitoral

— afirmou Carlos Gustavo Poggio, professor de Relações Internacionais da FAAP. — Biden não tem muita proximidade com ela, o que foge um pouco das escolhas recentes de candidatos a vice. Foi uma escolha focada no impacto eleitoral.

Poggio ressalta também as origens da senadora como um ponto favorável:

—É a primeira mulher negra aconcorreràV ice-Presidência, também a primeira pessoa de origem indo-americana. Essa comunidade é bem organizada e tem bastante força, e isso pode ser um elemento importante —disse.

O anúncio do nome da senadora como vice da chapa de oposição a Donald Trump foi feito seis dias antes do início da Convenção Nacional Democrata, na segunda-feira. Hoje, os dois aparecerão pela primeira vez juntos como a chapa presidencial do partido em um evento em Delaware, onde Biden mora.

A escolha daviceé vista como importante nocas odeBiden, quen ãoé dotado de especialcarisma. Composições palatáveis a moderados e setores mais à esquerda, além de uma rejeição relativamente baixa, de acordo com os números das primárias, Harris pode dar alguma musculatura à chapa. Além disso, Biden terá 78 anos em janeiro, em caso de assumira Casa Branca.

OBAMA: ‘DIA LINDO’

Atualmente, o democrata lidera as pesquisas nacionais por diferença de em média sete pontos sobre Trump. Resta saber se a escolha da vice pode ter um impacto duradouro nesses números.

—Esse tipo de ação tem, historicamente, um efeito de curto prazo, algum efeito imediato nas pesquisas, mas depois volta-se afa lardos temas de campanha —afirmou Poggio.

A convenção democrata será minimalista por causa da pandemia d eC ovid-19,c oma maioria das sessões em forma virtual, mas buscará funcionar como um ponto de união dentro do Partido Democrata: poucos querem repetira divisão extremada campanha de 2016, quando a disputa entre Hillary Clinton e o senador Bernie Sanders se arrastou até a convenção, algo que é visto como um fator determinantes para a derrota da democrata.

Sanders fará um dos discursos no primeiro dia da convenção, que também terá as palavras da presidente da Câmara, Nancy Pelosi, do líder da minoria no Senado, Chuck Schumer, além dos ex-presidentes Bill Clinton e Barack Obama.

Obama afirmou que a escolha de Harris marcou um “dia lindo” para os EUA e disse que ela está “mais do que preparada para o cargo”. “Joe tem uma parceira ideal para ajudá-lo a enfrentar os verdadeiros desafios da América. Agora, à vitória”, disse, no Twitter.

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Kamala Harris criticou política de Bolsonaro para a Amazônia

André Duchiade

12/08/2020

 

 

“Ele deve responder pela devastação', disse candidata a vice de Biden

 Asenadora Kamala Harris criticou várias vezes o presidenteJairBol sonar opor suas políticas para a Amazônia. “O presidente Bolsonaro do Brasil deve responder por esta devastação. A Amazônia gera mais de 20% do oxigênio do mundo eéol ar de um milhão de indígenas. Qualquer destruição afeta a todos nós”, afirmou no Twitter em 23 de agosto de 2019, junto de um vídeo com cenas e incêndios na floresta.

Harris criticou o presidente brasileiro em várias outras ocasiões e magos toe setembro do ano passado, quando os incêndios florestais recebiam destaque em manchetes em todo o mundo.

Em setembro, ela esteve no grupo de 11 senadores que assinaram uma carta ao representante de Comércio da Casa Branca, Robert Lighthizer, exigindo a suspensão de negociações comerciais com o Brasil até que Bolsonaro protegesse a Amazônia. Ela já adiantara esta mensagem no dia 24 de agosto em uma rede social:

“Enquanto a Amazônia queima, o presidente do Brasil, como Trump, que permitiu que madeireiros e mineradores destruíssem a terra, não está agindo. Trump não deve buscar um acordo comercial com o Brasil até que Bolsonaro reverta sua política catastrófica e resolva os incêndios. Precisamos de liderança americana para salvar nosso planeta”, afirmou.

Novamente, em 27 de agosto, ela acusou Trump de falhar em oferecer liderança diante das queimadas no Brasil.

“O presidente Bolson aro encorajou ativamente os incêndios na Amazônia e rejeitou a ajuda do G-7 para combatêlos. Trump apenas prometeu seu total apoio a Bolsonaro. Em um momento em que o planeta depende da liderança americana, Trump falhou."

BRASILEIRO ‘ATIÇA AS CHAMAS’

Em sua última mensagem sobre o governo brasileiro na rede social, do dia 31 de agosto, ela afirmou: “O fato de o presidente Bolsonaro atiçar as chamas dos incêndios na Amazônia e o enfraquecimento dos regulamentos de proteção às terras indígenas pôs as pessoas lá em perigo”.

As mensagens de Harris ecoa mas do líder da chapa,Joe Biden. Diversas vezes, o ex-vice-presidente, que lidera as pesquisas para a Casa Branca, afirmou que, se o Brasil não proteger a floresta amazônica, ele tomará medidas junto à comunidade internacional para impor a preservação ao país.

“Os incêndios que atingiram a Amazônia no verão passado foram devastadores”, disse à revista Americas Quarterly. “O presidente Bolsonaro deve saber que, se o Brasil falhar em ser o guardião responsável da floresta amazônica, meu governo reunirá o mundo para garantir que o meio ambiente fique protegido.”