O Estado de São Paulo, n.46272, 25/06/2020. Política, p.A6

 

Moraes manda soltar extremista e impõe tornozeleira

Paulo Roberto Netto

Raysa Motta

25/06/2020

 

 

Ministro proíbe Sara Geromini, líder do ‘300 do Brasil’, de se aproximar da sede do STF e do Congresso

Nas redes. Em vídeo, Sara fez ameaças ao ministro do STF

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, ordenou a soltura da extremista Sara Giromini, detida provisoriamente desde o dia 15 no Presídio Feminino do Gama, no Distrito Federal, no âmbito das investigações sobre financiamento dos atos antidemocráticos. Moraes determinou que Sara deverá deixar a cadeia utilizando tornozeleira eletrônica e somente poderá sair de casa para trabalhar ou estudar, mantendo distância mínima de um quilômetro das sedes do STF e do Congresso Nacional. Sara gravou vídeos ameaçando Moraes e liderou grupo que disparou fogos de artifício contra o prédio da Corte.

Com a medida cautelar, a extremista fica proibida de participar de atos que têm sido conduzidos pelo grupo que liderava, o “300 do Brasil”. As medidas cautelares se estendem a outros cinco investigados do inquérito, que também foram detidos.

De acordo com o ministro, há “risco à investigação e a necessidade de restrição à atuação dos integrantes do grupo com relação aos fatos investigados” no inquérito. No entanto, seria “suficiente” a aplicação de medidas cautelares no lugar da prisão preventiva. Além da tornozeleira, a extremista também está proibida de manter contato com outros investigados.

A decisão abrange parlamentares bolsonaristas, colegas do “300 do Brasil”, nomes ligados ao partido em criação Aliança pelo Brasil, empresas de tecnologia e publicidade, integrantes dos movimentos conservadores NasRuas e Avança Brasil, além de sites, blogs e canais de YouTube que defendem o governo Bolsonaro.

“Todas as medidas deverão ser realizadas imediatamente”, decretou Moraes. Procurada pela reportagem, a defesa de Sara afirmou que ainda não foi notificada da decisão, mas disse que, por ser uma prisão provisória nas vésperas de acabar, não haveria justificativa para manter a extremista na prisão. “Caso se confirme, tomaremos as medidas cabíveis em mais esse suposto abuso, que não sabemos se procede”.

Pedido. Mais cedo, os advogados da extremista apresentaram pedido junto ao STF para afastar Moraes do caso. A defesa acusa o ministro de abuso de autoridade e alega que ele está “perseguindo” a extremista. Sara foi denunciada pelo Ministério Público Federal pelos crimes de injúria e ameaça, “praticados de forma continuada”, contra Alexandre de Moraes.

Após ser alvo de buscas no inquérito das fake news, em que também é investigada, Sara xingou e fez uma série de ameaças ao ministro, chamando-o para “trocar socos”. Além disso, prometeu “perseguir e infernizar’ a vida dele, responsável por determinar a ação da Polícia Federal.

O grupo “300 do Brasil” é alvo do inquérito por participação em suposto esquema de financiamento de atos antidemocráticos. Em decisão, Moraes autorizou a identificação do beneficiário de uma “vaquinha virtual” que arrecadou R$ 80 mil para o grupo. A investigação apontou “real possibilidade” de ação coordenada de diversos núcleos, incluindo influenciadores e políticos, para disseminar mensagens a favor da “desestabilização do regime democrático” em troca de lucro.

“Os indícios na manifestação apresentada pela Procuradoria-Geral da República confirmam a real possibilidade de existência de uma associação criminosa”, escreveu Moraes, em decisão que autorizou buscas e apreensões em endereços ligados a apoiadores do governo na semana passada, incluindo a localização dos responsáveis por caminhões e trios elétricos utilizados nos atos em frente ao quartel-general do Exército. O sigilo bancário de dez deputados e um senador, todos bolsonaristas, foi quebrado.

Em depoimento, Sara afirmou que os integrantes do grupo ‘300 do Brasil’ “apoiam o presidente Bolsonaro, mas não recebem nenhum tipo de apoio financeiro ou de outra espécie do governo.”

Risco

“Há risco à investigação e a necessidade de restrição à atuação dos integrantes do grupo (300 do Brasil) com relação aos fatos investigados (no inquérito do Supremo).”

Alexandre de Moraes,

MINISTRO DO SUPREMO