Correio braziliense, n. 20922, 04/09/2020. Política, p. 4

 

Contratos desviaram R$ 40 milhões do Dnit

Renato Souza 

04/09/2020

 

 

Três contratos firmados pelo Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit) estão na mira da Polícia Federal. Investigações apontam desvios de até R$ 40 milhões na contratação de uma empresa de Brasília para prestar serviços de tecnologia da informação. Um dos alvos da ação deflagrada ontem é o secretário de Transportes do Distrito Federal, Valter Casimiro — que está em viagem no exterior e teve um mandado de busca expedido contra ele. Ao todo, foram cumpridos nove mandados de prisão e 40 de busca e apreensão. Os detidos foram levados para a Superintendência da PF no Setor Policial Sul.

Valter foi ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil do governo do ex-presidente Michel Temer e diretor-geral do Dnit em 2015. De acordo com as investigações, os contratos que foram alvo de desvios foram fechados entre 2012 e 2019. Além do DF, os mandados de prisão e de busca e apreensão foram cumpridos em São Paulo, Goiás e Paraná. A Justiça autorizou, também, o bloqueio de R$ 40 milhões das contas dos investigados, o sequestro de seis imóveis e 11 veículos. Esta é a segunda fase da Operação Gaveteiro, deflagrada em fevereiro deste ano, para apurar o desvio de R$ 50.473.262,80 do Ministério do Trabalho, por meio da contratação irregular dessa empresa de tecnologia.

De acordo com a PF, “o Ministério do Trabalho foi apenas um dos tentáculos da organização criminosa”. Os agentes apontaram ainda que “além de direcionar a contratação, os agentes públicos maximizavam o seu objeto, forjando a necessidade de aquisição de valores milionários em licenças, suporte técnico, consultoria e treinamento”.

Os suspeitos podem responder pelos crimes de peculato, organização criminosa, lavagem de dinheiro, fraude à licitação, falsificação de documento particular, corrupção ativa e passiva. Somadas, as penas podem chegar a mais de 40 anos de prisão. A Secretaria de Transportes do DF informou que o chefe da pasta “ainda não tomou conhecimento da investigação”, mas que “tão logo retornar, irá prestar todos os esclarecimentos”.

Durante as investigações, a PF identificou práticas suspeitas parecidas na Prodemge, empresa de tecnologia da informação ligada ao governo de Minas Gerais. De acordo com informações obtidas pelo Correio, a empresa B2T, suspeita de firmar contratos fraudulentos com o governo federal, foi a vencedora de uma licitação com a companhia do setor público de Minas.

O que chamou atenção dos investigadores é que, antes mesmo do processo de escolha da prestadora de serviços ser finalizado, conversas trocadas entre gestores da empresa falavam o nome da empresa que seria vencedora. Em nota, a Prodemge informou que “ainda que não foi comunicada oficialmente sobre qualquer investigação relacionada à empresa e se coloca à disposição para esclarecimentos”.