Título: Reunidos contra a crise
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 26/01/2013, Economia, p. 12
Países da América Latina, Caribe e União Europeia se encontram para traçar caminhos conjuntos pela sustentabilidade
A reunião de cúpula da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) e a União Europeia (UE), que começa hoje em Santiago do Chile, pode não ter muitos avanços, de acordo com especialistas. Mas como o final da crise financeira na Europa ainda não está próxima, o encontro não deixa de ser importante para manter os laços de proximidade entre a América Latina e o Velho Continente, maior origem dos investimentos estrangeiros na região. Apesar de o tema ser desenvolvimento sustentável, questões econômicas diversas não ficarão à margem do encontro dos 45 líderes que confirmaram presença.
Os representantes dos 60 países dos dois blocos deverão se comprometer a evitar políticas protecionistas e garantir um melhor ambiente para negócios, conforme rascunho do documento final da reunião, informou a Reuters. “Ainda vai levar tempo para a economia europeia ter dinamismo, mas procurar um equilíbrio nas relações entre os dois blocos é muito desejável”, afirmou o vice-presidente emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), José Botafogo Gonçalves. Ele destacou que um acordo de livre comércio com a União Europeia é importante para o Brasil e para a região. No entanto, ele não demonstrou otimismo em relação ao encontro.
O presidente chileno, Sebastián Piñera, ao contrário, avisou esta semana que espera entrar “em uma nova era das relações entre América Latina e UE, que se baseie menos na ajuda material e mais na cooperação para selar uma aliança estratégica dirigida a fomentar o desenvolvimento e mercados mais abertos”. A presidente Dilma Rousseff destacou a esperança de ampliar os laços com os europeus em várias áreas, principalmente, nos investimentos na região. “Estou certa que vamos fazer avançar as relações com a UE. E tenho certeza que nós vamos compartilhar, com toda a América Latina e o Caribe”, disse ela, anteontem, após a cúpula Brasil-UE.
Dilma chegou ontem à noite em Santiago, e, na manhã de hoje, participa do seu primeiro encontro bilateral, com Piñera, no Palácio de La Moneda. Está prevista a assinatura de três atos de cooperação entre os dois países, sendo um na área de educação, outro na de cultura e o último na de ciências para pesquisas em conjunto na Antártida. Na sequência, ela se reúne com o presidente do México, Enrique Peña Nieto. Depois da abertura da cúpula, o compromisso bilateral será com a chanceler alemã, Angela Merkel.
Os líderes da cúpula também assinarão documento com passos a serem dados em conjunto nos próximos dois anos em direção ao desenvolvimento sustentável. “Não há dúvida nenhuma que, para o Brasil, com grande vocação agrícola, é necessário investir muito na sustentabilidade da produção agropecuária. Espero que as discussões apontem formas de o país continuar como grande exportador de alimentos, sem causar prejuízos ao meio ambiente”, destacou Gonçalves.
Ameaça chinesa A Europa é o maior investidor direto na América Latina, respondendo por 44% do fluxo estrangeiro na região. Na última década, o bloco europeu investiu nos países latino-americanos cerca de US$ 500 bilhões e a maior parte desses recursos foi destinada ao Brasil (53%). Em 2011, a UE ainda era o segundo parceiro, com uma fatia de 13% das trocas comerciais, atrás dos Estados Unidos, com cerca de 40%. Contudo, esse domínio está ameaçado pela China, de acordo com um estudo Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). A entidade afirmou que os chineses poderão superar as exportações para a América Latina em 2016, deixando para trás a UE.
Alerta para risco de inflação O fundador e principal executivo de investimentos da Bridgewater Associates, Ray Dalio, alertou para uma bolha de liquidez crescente para a economia mundial durante o Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), em Davos, na Suíça. “Quando os gastos aumentam, é incumbência dos bancos centrais enxugar a liquidez excessiva”, disse ele, alertando contra o risco de inflação. Dalio participou de um painel ontem em Davos ao lado do ministro de Economia e Finaças da França, Pierre Moscovici, do principal executivo do Bank of America, Brian Moynihan e do presidente do Banco da Itália, Ignazio Visco. Para Visco, o desafio para os bancos centrais será a absorção desse excesso gerado para que os países saiam da crise financeira. “A coisa mais importante que um banco central produz não é o dinheiro, é a confiança”, disse Visco.