Correio braziliense, n. 20923, 05/09/2020. Política, p. 3
Bolsonaro avança e marca posição em SP
Augusto Fernandes
Ingrid Soares
05/09/2020
Das suas recentes agendas de viagens ao redor do país, a estadia de Jair Bolsonaro em São Paulo, desde a última quinta-feira, é a que mais tem contribuído para as suas pretensões de reeleição, sobretudo porque tem conseguido marcar território num terreno que é comandado por um possível rival dele nas eleições de 2022, o governador João Doria (PSDB). Na estratégia para tentar ampliar a influência na seara adversária, o presidente anunciou obras do governo federal em regiões mais carentes do estado. Em troca, obteve toda a cordialidade dos prefeitos locais e da população.
A jornada começou há dois dias, quando Bolsonaro participou da cerimônia de apresentação dos projetos de construção de duas pontes nos municípios de Pariquera-Açú e Eldorado, no Vale do Ribeira, região da Baixada Santista em que o presidente passou a infância e a adolescência. Sem ligar para as restrições por conta da pandemia da covid-19 impostas por Doria –– que proíbem a realização de eventos na área metropolitana de Santos ––, a prefeitura de Pariquera-Açú improvisou um auditório com cerca de 100 lugares para receber Bolsonaro e sua equipe. Além disso, o prefeito José Carlos da Silva (Republicanos) entregou ao presidente a chave da cidade e o título de cidadão pariquerense.
No sinal mais claro de que ignora as determinações do governo paulista, Bolsonaro andou pelas cidades que compõem o Vale e ainda posou para fotos com apoiadores e policiais rodoviários federais, provocando aglomeração e congestionamento no trânsito. Tudo sem a máscara de proteção. Ele também dispensou o equipamento para visitar a mãe, Olinda, de 93 anos.
Em São Paulo, o uso da máscara é obrigatório e quem desrespeitar a norma está sujeito à multa de R$ 524,59. Hoje, o estado é o que mais concentra casos e óbitos por covid-19: aproximadamente 845 mil infectados e pouco mais de 31 mil mortos.
Doria lamentou o “mau exemplo” do presidente. “Aqui em São Paulo, mais uma vez, deu um mau exemplo ao não usar máscara, e deu outro ao estimular e participar de aglomerações. Tudo de que não precisamos neste momento são de maus exemplos”, criticou o governador.