Correio braziliense, n. 20923, 05/09/2020. Mundo, p. 13

 

Mais urânio do que prevê acordo

05/09/2020

 

 

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) informou, ontem, que o Irã ultrapassou 10 vezes o limite de armazenamento de urânio enriquecido estabelecido no acordo nuclear, celebrado em 2015 com grandes potências ocidentais. De acordo com um relatório feito por especialistas, a República Islâmica tem reservas de 2.105,4 kg de urânio enriquecido — pelo pacto, o teto seria de 202,8 kg.

O armazenamento superior ao combinado há cinco anos é reflexo do desgaste ocorrido após a retirada dos Estados Unidos do pacto, em 2018. Em resposta, Teerã sentiu-se desobrigado a continuar seguindo os termos do acordo, limitando a cooperação coma AIEA. Sobretudo depois que Washington voltou a impor sanções contra o país.

A agência das Nações Unidas assinalou no relatório que seus técnicos estiveram uma das duas instalações nucleares iranianas que possuem reservas acima do acertado. Amostras foram coletadas pelos inspetores e serão analisadas. A segunda instalação será visitada ainda este mês.

Segundo um diplomata consultado pela agência de notícias France-Presse, serão necessários três meses para que os resultados das amostras estejam disponíveis.

Desde o último relatório publicado pela agência, em junho, Teerã não reduziu suas atividades nucleares, segundo constataram os inspetores. Há três meses, a reserva de urânio era oito vezes superiores ao limite.

Pressão

Nesse contexto, aumenta a pressão norte-americana sobre o Irã. Em 21 de agosto, Washington, que também quer prorrogar o embargo de armas que expira em outubro, tentou estabelecer outras medidas contra o país. As sanções propostas pelo governo de Donald Trump foram votadas na ONU, mas encontraram rejeição de seus aliados europeus, da China e da Rússia.

Entretanto, a falta de cooperação iraniana vinha abalando essa resistência. Durante meses, a AIEA pediu para entrar em duas instalações nucleares para fazer inspeções, mas Teerã posicionou-se contra, o que tornava o apoio dos países europeus cada vez mais insustentável.

Em meados de fevereiro, autoridades iranianas chegaram a declarar que estavam disposta a cancelar todas ou parte das medidas tomadas para se desassociar do acordo, exceto se a Europa lhe garantisse vantagens econômicas significativas em troca.

O acordo de 2015 assegurou ao Irã o levantamento de parte das sanções internacionais, em troca de garantias que comprovem o caráter exclusivamente civil de seu programa nuclear.