O Estado de São Paulo, n.46271, 24/06/2020. Metrópole, p.A12

 

Bolsonaro pede plano de retomada a candidato ao MEC

Jussara Soares

Renata Cafardo

24/06/2020

 

 

Após ida ao Planalto, atual secretário do PR disse que presidente quer saber como auxiliar Estados e municípios no retorno de aulas

Candidato a assumir o Ministério da Educação (MEC), Renato Feder se reuniu na manhã de ontem com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. Na conversa de quase uma hora, Bolsonaro falou ao atual secretário de Educação do Paraná que deseja um plano para a retomada das aulas pós-pandemia do coronavírus.

O pedido ocorre após uma comissão da Câmara apontar “omissões” e ausência de políticas públicas para tentar reduzir o impacto da crise na vida de estudante. O caso aconteceu na gestão de Abraham Weintraub, que, pressionado, deixou o governo na semana passada.

Em entrevista ao Estadão após a reunião no Planalto, Feder disse que Bolsonaro quer saber como MEC vai auxiliar Estados e municípios na retomada das aulas. “Na visão do presidente, é esse tipo de debate que o MEC deveria ter. Qual o retorno que minimiza os riscos de vida à saúde dos estudantes. Como os países desenvolvidos estão retornando, que tipo de protocolo as escolas devem adotar. Este tipo de discussão o MEC deve encabeçar, na opinião do presidente”, disse Feder.

O secretário foi recebido no Planalto com apoio do governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), ministros militares e das Comunicações, Fábio Faria, além de empresários como Meyer Nigri, fundador da Tecnisa e apoiador de Bolsonaro desde a campanha. Feder deixou a reunião dizendo que teve uma “conversa técnica” e não recebeu um convite, mas admite que passou por uma entrevista para o cargo.

“Entendi que ele queria me conhecer para fazer uma análise, então entendo como uma entrevista, entrei como um candidato”, disse Feder, afirmando que mostrou ao presidente os resultados de sua gestão no Paraná. “O aprendizado no Paraná tem crescido bastante, temos feito uma política bem forte de tecnologia de apoio à escola, apoio ao professor com boas ferramentas, boa gestão, de foco no aprendizado do aluno”, disse secretário.

Segundo apurou o Estadão, Feder tinha o sonho de se tornar secretário da Educação. Seus contatos com empresários e terceiro setor fizeram com que ele fosse indicado a Ratinho Junior (PSD) para o cargo no Paraná, no ano passado. Durante a pandemia, o Estado é um dos que tem se destacado por ter criado rapidamente um sistema de educação a distância bem estruturado.

Em 2017, ele abordou em um evento o então secretário de Educação de São Paulo, José Renato Nalini, na gestão de Geraldo Alckmin (PSDB). Feder disse a ele que queria um emprego na secretaria, explicou que tinha ganho muito dinheiro e estava disposto agora a trabalhar pelo ensino público. Nalini se impressionou com o pedido e deu então um cargo de assistente a ele, com salário de R$ 8 mil, na secretaria, onde ficou alguns meses. A intenção era a de que Feder aproximasse a rede estadual de empresários e ONGs que pudessem ajudar em projetos. Mas o trabalho não foi bemsucedido e Feder deixou a secretaria. Sua visão mais liberal é criticada por alguns e elogiada por outros no meio educacional.

Até o início da noite desta terça-feira, Bolsonaro ainda não tinha se decidido por confirmar Feder como novo ministro da Educação. Apesar do candidato ter sido recomendado por políticos, empresários, militares e evangélicos por ter um perfil técnico, o presidente receia desagradar à base bolsonarista ao oficializá-lo. A ala ideológica, mais ativa nas redes sociais, sonha com um ministro com um perfil mais próximo a Weintraub, alinhado ao guru Olavo de Carvalho. O nome preferido do grupo era o secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim, mas seu nome sofre resistência por ser ligada aos olavistas.

Passado. Em 2007, Feder publicou o livro Carregando o Elefante – Como transformar o Brasil no país mais rico do mundo, em que defendeu a privatização do ensino e até mesmo o fim do MEC. A obra, escrita com o empresário Alexandre Ostrowiecki, defendia que o governo pagasse voucher para que pais matriculassem filhos em escolas particulares. Cotado para chefiar o ministério, ele argumenta que mudou de opinião.

“É um livro muito antigo, escrito há quase 15 anos, não é o que penso hoje. As pessoas mudam de opinião, melhoram. Eu era um jovem de 20 e poucos anos quando escrevi aquele livro. Muito do que penso hoje não tem a ver com o livro”, disse ao Estadão. “Eu não entendia nada de educação e hoje conheço melhor. Toda a parte da (minha) escrita sobre educação eu não concordo. A questão do voucher eu não concordo e não deu certo em nenhum lugar do mundo”, disse.

Fundeb

“Ele (Bolsonaro) entende que a aprovação do Fundeb é muito importante e quer um ministério que apoie as secretarias de Educação.”

Renato Feder

SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO DO PR