Título: ONU reage à Coreia
Autor: Valente, Gabriela Freire
Fonte: Correio Braziliense, 13/02/2013, Mundo, p. 17

A Coreia do Norte se viu rodeada por advertências da comunidade internacional após fazer um terceiro teste nuclear, na madrugada de ontem, em Punggye-ri, perto da fronteira com a China. Em uma reunião de emergência, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) condenou a ação e prometeu adotar medidas sérias. Feita com um dispositivo em miniatura, a detonação — duas vezes mais forte que as anteriores, em 2006 e 2009 — foi considerada um ato “altamente provocativo” por Barack Obama.

De acordo com o presidente norte-americano, a explosão experimental “mina a estabilidade regional e viola as obrigações do país sob inúmeras resoluções do Conselho de Segurança”. Segundo a Casa Branca, ele prometeu defender firmemente a Coreia do Sul, em uma conversa por telefone com o presidente Lee Myung-Bak. A repercussão do ato foi tamanha que Obama teve de incluir o tema no discurso que fez, na noite de ontem, ao Congresso dos Estados Unidos, para apresentar as propostas de recuperação da economia a ser adotadas em seu segundo mandato.

Em Nova York para discutir a proteção de civis em conflitos armados, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, reiterou uma nota divulgada pelo Itamaraty conclamando a Coreia do Norte a “cumprir plenamente as resoluções pertinentes do Conselho de Segurança e a contribuir ativamente para criar as condições necessárias à retomada das negociações relativas à paz e à segurança na Península Coreana”.

“A explosão foi uma clara ameaça à paz internacional e à segurança”, disse o ministro das Relações Exteriores sul-coreano, Kim Sung-Hwan, na leitura da declaração do conselho da ONU. Sung-Hwan enfatizou que a entidade “condena firmemente” o episódio e que novas medidas (de isolamento) contra a Coreia do Norte serão negociadas. Jon Yong Ryong, primeiro secretário norte-coreano em Genebra, revidou, no entanto, que seu país não vai “se curvar” às exigências da ONU.

Recado Para Antonio Jorge Ramalho, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB), o país do Leste Asiático faz das ameaças um instrumento de barganha para conseguir benefícios econômicos. “É arriscado, mas ele aposta nisso desde os anos 1950”, lembrou. Mas, desta vez, nem mesmo a China e o Irã, tidos geralmente como aliados do governo da Coreia do Norte, posicionaram-se favoráveis ao perigoso jogo de Kim Jong-un.

Por meio de um comunicado, o Ministério de Relações Exteriores chinês defendeu o fim dos programas nucleares na península e pediu que Pyongyang (capital norte-coreana) não leve adiante “nenhuma ação que agrave a situação”. Mesmo estando sob sanções da ONU por causa de seu programa nuclear, o governo iraniano, por sua vez, afirmou que “todas as armas nucleares precisam ser destruídas”. Ramin Mehmanparast, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, acrescentou, porém, que os países devem ter o direito de usar a tecnologia nuclear para fins pacíficos.

Somada às tentativas de lançamento de um satélite, no ano passado, a detonação levanta suspeitas sobre o desenvolvimento de mísseis. “Parece que Pyongyang quer enviar a mensagem, verdadeira ou não, de que pode empregar um míssil com uma ogiva nuclear e que os problemas anteriores com os seus testes nucleares foram superados”, avaliou Jim Walsh, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

O Ministério da Defesa norte-coreano também afirmou que o teste de ontem é apenas “uma primeira etapa” e advertiu que, caso sejam aplicadas sanções, medidas “mais fortes” serão tomadas. “Se os Estados Unidos complicarem a situação com a sua persistente hostilidade, não teremos outra opção a não ser executar uma segunda ou terceira ação”, ameaçou, por meio de nota. Além dos representantes de Estado, a explosão também causou a indignação de entidades ligadas à paz em todo o mundo.

» A REPERCUSSÃO

Autoridades de todo o mundo comentaram a atitude da Coreia do Norte

Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU “É uma clara e grave violação das resoluções do Conselho de Segurança da ONU. É deplorável que Pyongyang tenha desafiado a chamada forte e inequívoca da comunidade internacional e é necessário que (o governo coreano) se abstenha de quaisquer outras medidas provocativas.”

Yukiya Amano, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) “Isso é profundamente lamentável e é uma clara violação das resoluções do Conselho de Segurança da ONU. A AIEA continua disposta a contribuir para a resolução pacífica da questão nuclear da RPDC (República Popular Democrática da Coreia), retomando as atividades de verificação nuclear (no local) logo que o acordo político seja alcançado entre os países em causa.”

Ministério das Relações Exteriores israelense “Uma mensagem clara de que tais atividades são inaceitáveis e não podem ser toleradas deve ser enviada à RPDC e a outros países.”

Park Geun-hye, presidente eleito da Coreia do Sul “O teste nuclear da Coreia do Norte é uma grave ameaça à península da Coreia e à paz internacional, dificulta a construção de confiança intercoreana e mina os esforços de paz.”

Shinzo Abe, primeiro-ministro japonês “O teste é uma grave ameaça à segurança do nosso país e um grande desafio contra o quadro global de desarmamento nuclear e a não proliferação de armas nucleares. Isso não pode ser tolerado, pois vai prejudicar significativamente a segurança e a paz do nordeste da Ásia e da comunidade internacional.”

Ministro de Relações Exteriores russo “Nós insistimos que a RDPC deixe os seus atos ilegais e cumpra, sem hesitação, todas as instruções do Conselho de Segurança da ONU, renunciando completamente aos programas de mísseis nucleares e voltando ao Tratado de Não Proliferação Nuclear da AIEA. Assim, e só assim, a RPDC vai ser capaz de sair do isolamento internacional, o que abrirá caminho para a sua participação na cooperação internacional em várias áreas, não excluindo o uso pacífico do átomo e de lançamentos espaciais.”

William Hague, chanceler britânico “O Reino Unido vai convocar consultas urgentes com parceiros do Conselho de Segurança para exigir uma resposta robusta sobre esse último acontecimento. A Coreia do Norte tem uma escolha a fazer: pode se envolver de forma construtiva com a comunidade internacional, deixar de desenvolver programas nuclear e de mísseis balísticos e voltar às negociações ou encarar o isolamento crescente e as intervenções do Conselho de Segurança e da comunidade internacional.”