Correio braziliense, n. 20926, 08/09/2020. Política, p. 4
Esplanada reúne atos pró e contra
Luiz Calcagno
Thais Umbelino
08/09/2020
Em Brasília, manifestantes favoráveis e contrários ao presidente Bolsonaro ocuparam a Esplanada dos Ministérios. De um lado, apoiadores reuniram-se em frente ao Museu Nacional, de onde caminharam em direção ao Congresso. Os manifestantes levaram bandeiras do Brasil e balões verdes, amarelos e azuis. Do outro lado, integrantes de movimentos contrários ao governo juntaram-se no tradicional protesto do Grito dos Excluídos para a realização de atos cênicos performáticos. Diferentes grupos e representantes de movimentos feministas, LGBTQIA+, negros e indígenas participaram.
Com o lema de defender a pátria amada, manifestantes pró-governo gritavam palavras de ordem e pela “defesa do Brasil”. A maioria usava máscara. Um pequeno grupo chegou a estender uma bandeira fascista integralista, mas a guardou em seguida. Uma banda instrumental acompanhou o ato durante todo o trajeto ao som de músicas patrióticas. O movimento foi pacífico e sem conflitos partidários. Em ponto estratégico, antes da Catedral, a PM realizou barreira para revista de mochilas e bolsas, além de orientar o uso das máscaras. Durante a vistoria, foi apreendida uma arma branca e pequenas porções de droga. Ao final da passeata, os manifestantes esperaram em frente ao Congresso pela aparição do presidente, mas o chefe de Estado não compareceu.
Bolsonaristas se encontraram, também, em São Paulo (SP), em frente à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Protesto
Iniciada na altura do Teatro Nacional, a 26ª edição do Grito dos Excluídos durou cerca de uma hora e contou com uma série de pequenos atos performáticos. Integrantes de partidos e representantes da sociedade civil se reuniram, ainda, em outros 18 estados e pela internet.
Na capital, os presentes estenderam camisas brancas com caixões, em memória aos profissionais de saúde mortos pela pandemia do novo coronavírus e inflaram um boneco do presidente da República com as mãos cobertas de sangue. Um grupo portando máscaras de ratos rasgava réplicas da Constituição enquanto mulheres com as mãos pintadas de vermelho chamavam a atenção para a violência de gênero.
A servidora pública Flávia Rodrigues, 47 anos, que participou do protesto vestindo terno e com máscara de rato, afirmou que os parlamentares desrespeitam a Constituição. Ela, que perdeu uma tia vítima da covid, também culpa os políticos pelo alto número de mortes. “É pesado. Os ratos tiraram vidas. É impossível rasgar a Constituição e não pensar nessas (quase) 130 mil vidas. Não são todos os congressistas. Há uma minoria que luta pela vida, que fez o auxílio emergencial chegar a R$ 600. O Grito dos Excluídos existe há muitos anos. Nosso grito é por Justiça e democracia.”