Título: Correa vence no primeiro turno
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 18/02/2013, Mundo, p. 13

Empurrado pela certeira combinação de estabilidade política e bom momento econômico no Equador, o presidente Rafael Correa conquistou ontem seu terceiro mandato. Três pesquisas de boca de urna apontavam na noite de ontem uma vitória com 61% dos votos para o líder do Movimiento Alianza PAIS, índice mais do que suficiente para garantir a conquista no primeiro turno. Em segundo lugar, apareceu o ex-banqueiro Guillemo Lasso, do Partido Creando Oportunidades, com 20%. O ex-presidente Lucio Gutiérrez, do Partido Sociedade Patriótica, veio em terceiro, com 5,7%, segundo as pesquisas.

Em um discurso para milhares de simpatizantes da sacada do palácio presidencial de Carondolet, em Quito, Correa proclamou sua conquista, antes mesmo da divulgação de resultados oficiais. “Só estamos aqui para servir a vocês. Nada para nós, tudo para vocês, povo que se fez digno de ser livre.” Os primeiros dados revelados pelo Conselho Nacional Eleitoral confirmavam as pesquisas. Com 30% das urnas apuradas, Correa aparecia na frente com 56% dos votos.

Diante de uma oposição dividida e sem líderes fortes o suficiente para ameaçar a hegemonia do presidente nas urnas, as eleições soaram mais como um referendo para o líder, que já goza de uma popularidade na casa dos 80%. O presidente esperava também reconquistar a maioria na Assembleia Nacional, perdida depois de uma debandada de antigos aliados para a oposição. Até o fechamento desta edição, o resultado para o parlamento não estava claro.

Cerca de 11,6 milhões de equatorianos, de uma população de 15 milhões, votaram ontem no país e nas representações internacionais para eleger presidente, vice e 137 congressistas. Rafael Correa votou pela manhã em uma escola na parte norte da capital, Quito. Ele pediu que o processo fosse o “mais inclusivo e transparente da história do país”. As eleições transcorreram sem registros graves e foram acompanhadas por observadores de organizações como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e a Organização dos Estados Americanos (OEA).

Correa assumiu pela primeira vez em 2007, encerrando uma crise institucional que levou o Equador a ter 15 presidentes em apenas 10 anos. Esta é a última vez que ele pode se beneficiar da prerrogativa da reeleição, prevista em uma reforma constitucional cunhada por ele em 2008. Ele deve permanecer no cargo até 2017.

Inspiração Com um perfil mais pragmático, o mérito do economista de 49 anos se deve especialmente à boa conjuntura econômica, de inflação controlada e excelentes preços de seus produtos de exportação no mercado de commodities, especialmente o petróleo. “Isso teve um impacto extremamente decisivo tanto no âmbito político como no social”, avalia o professor Rafael Villa, coordenador do Núcleo de Pesquisas em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP). Diante de um crescimento do PIB de 4% e desemprego de 5,8%, Correa encontrou cenário favorável para o desenvolvimento de programas sociais, aponta Villa. Estima-se que cerca de 1 milhão de pessoas tenham avançado à classe média nos últimos anos no Equador, graças a programas sociais inspirados em iniciativas do Brasil e da Venezuela.

Não é apenas o modelo social que o Correa importou do país de Hugo Chávez, segundo Villa. Venezuelano, o professor diz que vem de lá a influência sobre a participação do Equador no Mercosul. Assim como a Bolívia, o país foi convidado pelos membros (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) a integrar o bloco sul-americano. Mas, diferentemente do presidente boliviano, Evo Morales, que na última cúpula do grupo em Brasília deu o primeiro passo rumo à integração, Correa prefere esperar para ver como se desenvolverá no grupo a Venezuela, incorporada em agosto.

Caso Chávez continue afastado da Presidência devido ao seu tratamento contra o câncer, Correa tem sido apontado como um candidato a preencher esse espaço. Villa, porém, acredita que não é esse o objetivo do líder, muito mais focado na própria economia equatoriana.