Correio braziliense, n. 20927, 09/09/2020. Brasil, p. 5

 

Imprevisto com vacina que o país mais aposta

Ingrid Soares

Maria Eduarda Cardim 

09/09/2020

 

 

O ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, voltou a dizer que a previsão é de que as vacinas contra o novo coronavírus estejam disponíveis a partir de janeiro. A declaração ocorreu durante a reunião ministerial de ontem. O presidente Jair Bolsonaro levou uma youtuber mirim para fazer perguntas aos ministros. O vídeo foi disponibilizado nas redes sociais do presidente e a maioria dos membros estava sem máscara, assim como o mandatário e a criança. No microfone do chefe do Executivo, Esther Castilho, de 10 anos, indagou o general sobre os imunizantes: “Vai ter vacina para todo mundo e remédio, ou não vai?”, questionou a menina. “Estamos fazendo contratos com quem fabrica as vacinas. Esse é o plano. Está previsto que a vacina chegue para nós em janeiro. A partir de janeiro, a gente começa a vacinar todo mundo”, declarou.

Importante destacar que, em agosto, a pasta informou que serão adotados critérios de prioridade e que nem todos serão vacinados. Horas depois da declaração de Pazuello, o laboratório AstraZeneca, com quem o governo federal acertou um protocolo de intenções que prevê a disponibilização de 30 milhões de doses até o fim do ano, declarou ter interrompido os testes da vacina produzida com a Universidade de Oxford após uma suspeita de reação adversa.

A “vacina de Oxford”, como ficou conhecida, é testada no Brasil em 5 mil voluntários. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que recebeu um comunicado do laboratório sobre a interrupção do estudo, mas aguarda o envio de mais informações para se pronunciar oficialmente. A Anvisa deve posicionar-se ainda hoje.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) confirmou ter sido informada pela AstraZeneca sobre a suspensão dos testes clínicos em fase 3 e declarou aguardar mais informações para emitir pronunciamento oficial. “A Fiocruz vai acompanhar os resultados das investigações sobre possível associação de efeito registrado com a vacina para se pronunciar oficialmente”, disse a nota. Procurado, o Ministério da Saúde disse levantar maiores informações e não voltou a se manifestar até o fechamento desta edição.

O governo federal está concluindo as negociações para o pagamento e a assinatura de um acordo final que incluirá também a transferência de tecnologia para produção nacional, que deverá ser conduzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Caso a vacina tenha sua eficácia comprovada, a previsão da pasta é produzir, inicialmente, 100 milhões de doses a partir de insumos importados. A produção integral da vacina na unidade técnico-cientifica Bio-Manguinhos, no Rio, deve começar a partir de abril de 2021.

Outras candidatas

Outros países também têm apresentado estudos para a produção da vacina, como Rússia e China, e integrantes da pasta de Saúde já disseram que podem também negociar caso alguma delas se mostre eficaz contra a covid-19. Na reunião no Planalto, a garantia de uma vacina em janeiro foi citada ainda por Marcelo Álvaro Antônio, chefe da pasta do Turismo. “A expectativa é que o próximo verão, com a vacina, seja o maior volume de turismo da história do turismo doméstico”, declarou. Segundo ele, o setor “vai voltar forte.”

Hidroxicloroquina

Mais tarde, em um encontro com um grupo de médicos defensores da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19, Bolsonaro reforçou a bandeira do medicamento — que não tem eficácia comprovada. O presidente pontuou ter ficado com “pecha de genocida” por defender a prescrição da medicação para o tratamento do vírus. “Eu estou com a pecha de genocida por falar da cloroquina e por alguns acharem que eu devia fazer algo mais. Como, se eu fui impedido em muitas coisas pelo STF (Supremo Tribunal Federal)?”