Título: Demissões constrangem senadores
Autor: Mader, Helena
Fonte: Correio Braziliense, 16/02/2013, Política, p. 3

A demissão de duas estagiárias do Senado que fizeram críticas ao presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), gerou um clima de tensão entre servidores e também criou polêmica entre os senadores, que se dividiram quanto à decisão. Como o Correio mostrou na edição de ontem, as jovens estudantes trabalhavam no Serviço de Administração de Recursos Humanos e foram demitidas depois de escreverem em uma rede social que Calheiros representava “um problema” para o Senado — a declaração estava sobre a foto de um rato morto, fotografado nas dependências da gráfica da Casa. Com receio de sanções semelhantes, funcionários se apressaram em apagar qualquer tipo de comentário político, não só com relação ao Congresso, mas também dirigidos ao Planalto ou ao Judiciário.

O senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP) fez duras críticas à demissão das estagiárias — uma delas é sobrinha do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa. “As redes sociais são um território para livre expressão. Elas não são uma fazenda da qual o senador Renan é coronel”, disparou Randolfe. “Essa demissão foi totalmente absurda, acho que o senador está começando muito mal a sua gestão como presidente. Se isso virar moda, nenhum servidor vai poder se expressar daqui para a frente”, acrescentou. A assessoria de imprensa do presidente do Senado informou que a medida foi tomada pela Direção-Geral da Casa, e que ele não tinha conhecimento do caso antes da divulgação.

Líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE) discordou da punição, mas lembrou que o uso de ferramentas tecnológicas no ambiente de trabalho está sujeito ao controle das chefias. “Sou a favor da livre expressão nas redes sociais, mas já existem decisões, inclusive nos tribunais superiores, que dizem que a empresa pode ter acesso a informações de e-mails corporativos, por exemplo. Dentro do ambiente de trabalho, há limites, e a própria legislação trabalhista define isso.”

O senador Pedro Simon (PMDB-RS), que durante a campanha para eleição da presidência do Senado chegou a pedir que Renan retirasse a candidatura, criticou ontem o colega pela demissão das estagiárias. “Esse tipo de crítica é natural, e as redes sociais estão cheias delas. Foi uma atitude triste, e que pode gerar o aparecimento de um número ainda maior de questionamentos”, comentou.

Orientações O uso de redes sociais no ambiente corporativo, tanto em instituições públicas quanto privadas, costuma gerar controvérsia. Especialistas recomendam que as chefias orientem os funcionários sobre os limites de uso dessas redes e que sejam criados manuais para os funcionários.

“A empresa, seja ela pública ou privada, tem que se apropriar dessa responsabilidade e estabelecer limites. Nossa recomendação é que os funcionários tenham cautela, especialmente os da geração Y. Muitos veem as redes sociais como uma extensão da própria vida, da própria comunidade, sem perceber o alcance que elas têm”, comenta a especialista Carmen Cavalcanti, mestre em desenvolvimento de recursos humanos pela Universidade de Illinois (EUA).

Petição na internet O senador Renan Calheiros divulgou nota ontem para comentar a petição on-line contra ele, que já reúne 1,5 milhão de assinaturas, mas o senador não citou o episódio das demissões. “A mobilização na internet é lícita e saudável, principalmente entre os jovens. Fui líder estudantil, todos sabem, e também usei as ferramentas da época para pressionar”, comentou. “O número de assinaturas não é tão importante quanto a mensagem, o que importa é saber que a sociedade quer um Congresso mais ágil”, acrescentou.