Título: Justiça nega liberdade a donos da boate Kiss
Autor: Castro, Grasielle
Fonte: Correio Braziliense, 16/02/2013, Brasil, p. 8

Vinte dias depois da tragédia na boate Kiss, em Santa Maria (RS), que matou 239 pessoas, a Polícia Civil se apressa para terminar o inquérito, que deve ser entregue até o dia 26. Mais de 200 pessoas já foram ouvidas e as 1,6 mil páginas de laudos técnicos estão sob análise. Até o fechamento desta edição, 37 pessoas continuavam internadas, seis respirando com ajuda de aparelhos. De acordo com a polícia gaúcha, os depoimentos corroboram a tese de que há um conjunto de responsabilidades e circunstâncias que levaram ao incêndio. Ontem, a Justiça do Rio Grande do Sul negou o pedido de sigilo das investigações, feito pelos advogados dos sócios da boate Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr. Em seu despacho, o juiz Ulysses Fonseca Louzada, da 1ª Vara Criminal de Santa Maria, ressaltou que a tragédia alcançou repercussão mundial e disse que as informações sobre o caso são de interesse da sociedade. Na quinta-feira, também foi negado o pedido de habeas corpus do vocalista da banda Gurizada Fandagueira, Marcelo de Jesus dos Santos. Antes, a Justiça já havia recusado pedido semelhante feito pelos advogados de um dos donos da casa noturna, Mauro Hoffmann. Além deles, outro sócio da boate, Elissandro Callegaro Spohr, e o produtor da banda, Luciano Augusto Bonilha Leão, também cumprem prisão preventiva. O chefe da divisão de comunicação da Polícia Civil, Marco Antônio Kessler, explica que eles continuam presos para não interferir nas investigações. Os bens dos donos da boate foram bloqueados judicialmente para cobrir possíveis indenizações. Os quatro presos são considerados peças-chave na apuração policial. Já se sabe que o vocalista da banda usou um sinalizador inadequado para locais fechados; que o extintor de incêndio não funcionou; que a casa estava lotada e com o alvará vencido e que havia apenas uma saída, incapaz de permitir que os frequentadores pudessem deixar o local com rapidez em caso de emergência. %u201CHouve uma sequência de erros. Todo material colhido está sendo avaliado para que se possa apontar com certeza o grau de culpa de cada um%u201D, resumiu Kessler. A partir de segunda-feira, mais pessoas serão ouvidas, inclusive integrantes do Corpo de Bombeiros e da prefeitura de Santa Maria, que devem explicar como a boate continuava funcionando sem alvará em dia e com problemas relacionados à segurança. Na quinta-feira, a Associação Nacional para Exigência do Cumprimento das Obrigações Legais (Anecol) pediu, por meio de uma ação civil pública, ajuizada na Comarca de Santa Maria, uma indenização de R$ 3 milhões às famílias de cada vítima, além de R$ 300 mil para cada um dos feridos.