Título: Câmbio é a tônica no G-20
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 16/02/2013, Economia, p. 11
A manipulação das taxas de câmbio para elevar a concorrência comercial foi um dos temas dominantes do primeiro dia do encontro dos ministros das finanças e dos presidentes dos bancos centrais dos países do G-20, ontem, na Rússia. O assunto esteve presente nas declarações das autoridades das 19 principais nações desenvolvidas e emergentes do planeta, mais a União Europeia, reunidas até hoje em Moscou para discutir o futuro da economia global e formas de redução dos deficits dos governos. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central do Brasil, Alexandre Tombini, participam do evento ministerial que também é preparatório para a cúpula dos líderes do grupo, no início de setembro, na cidade russa de São Petersburgo.
O Brasil tem feito manifestações contra a guerra cambial em várias reuniões do G-20, e, no ano passado, conseguiu emplacar um painel na Organização Mundial de Comércio (OMC) para debater o uso da desvalorização artificial das moedas como um ato de concorrência desleal (dumping). Mantega criticou novamente essa prática utilizada por países exportadores com dificuldades para competir diante da desaceleração da expansão do comércio internacional. "A guerra cambial está mais explícita agora porque os conflitos de comércio tornaram-se mais agudos", disse ele. O ministro reafirmou que o câmbio não é ferramenta do governo para conter a inflação e sim os juros. "O Banco Central tem que ficar vigilante e, se a inflação não ceder espontaneamente, tomará as devidas providências", afirmou. Essa declaração mexeu com os mercados.
Os temores de uma guerra cambial cresceram devido aos movimentos recentes do iene e do euro. Autoridades em Moscou tentaram desmerecer o assunto. Foi o que fez a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, e o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi. Ela disse que "as discussões sobre a guerra cambial global estão exageradas e as taxas não estão distantes de seus valores justos". Draghi, por sua vez, classificou os debates sobre câmbio como "inapropriados, infrutíferos e autodestrutivos", disse. "O câmbio é um dos temas mais importantes do G-20, mas a maioria dos líderes tentará minimizar esse debate", avaliou o economista da consultoria Tendências, Silvio Campos Neto. Para ele, a diminuição das preocupações de reuniões anteriores, como a sobrevivência do euro, ajudou a dar espaço ao tema.
O economista e professor da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite, concorda, mas considera outra questão importante: a repercussão da negociação para a criação de uma zona transatlântica de livre comércio entre União Europeia e Estados Unidos, anunciada anteontem. "Esse assunto é novo no G-20 e a reação a ele é que deverá dar a tônica do encontro", apostou ele lembrando que o Brasil precisa ficar muito atento, pois tem muito a perder com um acordo desse tipo. "O país tem se afastado desses dois importantes parceiros comerciais por questões ideológicas, mas precisará repensar sua política externa. E ainda há tempo para mudá-la", orientou.
"Debates sobre câmbio são inapropriados, infrutíferos e autodestrutivos"
Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE)