Correio braziliense, n. 20929, 11/09/2020. Ciência & Saúde, p. 16

 

Degradação maior do que o imaginado

11/09/2020

 

 

Um estudo mostrou que a área da Amazônia brasileira afetada pela degradação florestal é maior do que as áreas desmatadas da região. No desmatamento, há a retirada completa da floresta para outro uso da terra, como a pastagem e o cultivo agrícola. Já na degradação, a cobertura é removida parcialmente, como para a abertura de estradas e devido a incêndios. O estudo publicado ontem na revista americana Science é resultado da análise de uma série de imagens da região florestal obtidas por meio de satélites. Os autores do trabalho acreditam que os dados podem ajudar no desenvolvimento de estratégias de proteção do local.

No artigo, os pesquisadores explicam que a degradação é mais difícil de medir e monitorar do que o desmatamento, embora várias iniciativas ambientais internacionais, como a Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, já tenham se posicionado quanto à importância de manter uma vigília para esse tipo de atividade. “Embora as taxas de desmatamento na Amazônia brasileira sejam bem conhecidas, a extensão da área afetada pela degradação florestal é uma lacuna de dados notável, com implicações para a biologia da conservação, a ciência do ciclo do carbono e a política internacional”, explicaram os autores no estudo, assinado por Eraldo Aparecido Matricardi, pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), e David Skole, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.

Os pesquisadores analisaram imagens de satélite da Amazônia entre 1992 e 2014 para observar as regiões que sofreram degradação e compará-las com as áreas desmatadas. Como resultado, os cientistas encontraram um número mais alto do que o esperado. “A área total de floresta degradada foi de 337.427 quilômetros quadrados, em comparação com 308.311, desmatados. A degradação florestal é uma forma separada e crescente de perturbação florestal, e a área afetada agora é maior do que a que sofreu com o desmatamento”, enfatizaram.

Os pesquisadores explicam que a taxa e a extensão da degradação florestal na Amazônia são um componente importantíssimo para estabelecer estratégias voltadas para a mitigação e a adaptação às mudanças climáticas. “A conclusão geral desse trabalho é que a degradação florestal é uma forma significativa de perturbação da paisagem e do ecossistema. Focar a atenção apenas no desmatamento ignora uma área adicional de floresta degradada”, frisaram.