Título: Defesa do mercado
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Fonte: Correio Braziliense, 17/02/2013, Economia, p. 13
O G-20, grupo que reúne as principais economias emergentes e desenvolvidas do mundo, fez uma crítica generalizada e sem muita ênfase à “guerra de moedas”, em apoio a taxas de câmbio fixadas pelo mercado, seguindo declaração emitida na semana passada pelo G-7, grupo dos países mais industrializados, e atendendo a pedido do Brasil. Ficou estabelecido que todos os membros buscarão “se abster de qualquer situação de disputa monetária”.
A sinalização foi dada ontem no comunicado acertado pelos ministros de Finanças e pelos presidentes de bancos centrais do G-20 no encontro de Moscou que serve de preparação para a cúpula dos líderes do grupo, marcada para setembro, em São Petersburgo, Rússia. Eles também destacaram que o cenário externo ficou menos arriscado em relação às últimas perspectivas.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, declarou-se satisfeito com a discussão sobre o câmbio no G-20, mas constatou o persistente confronto entre países que defendem austeridade e os que querem mais estímulos para recuperar a frágil economia global. Após conversas mantidas ao longo da noite de véspera, os delegados concordaram em modificar o esboço do comunicado, acrescentando na versão final os compromissos do G-20 de evitar desvalorizações competitivas de divisas e de buscar uma política monetária capaz de levar à estabilidade de preços e ao crescimento.
A política cambial estava no centro das divergências entre as potências ocidentais e a China, acusada de manter o iuane artificialmente baixo para favorecer as suas exportações. Mas manobras do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) e, mais recentemente, do banco central japonês para desvalorizar as moedas locais colocaram as suas críticas em contradição.
Os emergentes, liderados pelo Brasil, vêm há dois anos denunciando essas práticas. Eles passaram a receber apoio de países europeus, como a França, que apontam na força do euro uma das razões para a demora na saída da crise. Para evitar a onda de desvalorizações competitivas de moedas, os países ricos do G-7 reafirmaram na terça-feira em um comunicado que é preciso deixar que o mercado estabeleça por si só as taxas de câmbio.
Apesar disso, não houve críticas às medidas adotadas recentemente pelo Japão para desvalorizar sua moeda, o iene, em 20%. “O Japão apresentou um plano de recuperação e sua política não recebeu censura, porque serve para combater a deflação”, explicou Mantega.
Austeridade O documento do foro que responde por 90% das riquezas produzidas no mundo revela ainda uma preocupação com a fragilidade da economia global, afetada pela recessão na Eurozona. Prova disso é que planos de estabelecer novas metas percentuais de redução de dívidas foram adiados. A Rússia, que preside neste ano o G-20, espera adiar os objetivos fixados em 2010 em Toronto, onde os países do bloco se comprometeram a reduzir em 2013 seus deficits de então à metade. Alguns países, como a Alemanha, negam-se, no entanto, a fazer muitas concessões.
Neste contexto, é levantada a questão de como adaptar a política de rigor orçamentário de forma a não acentuar ainda mais a recessão. Segundo o ministro francês da Economia, Pierre Moscovici, continua o debate sobre o ritmo de consolidação fiscal e sobre “o equilíbrio com as estratégias favoráveis ao crescimento”.