Valor econômico, v. 21, n. 5089, 18/09/2020. Brasil, p. A7

 

Brasil pede prazo para decidir se compra vacina

Assis Moreira

Matheus Schuch

Fabio Murakawa

18/09/2020

 

 

País solicitou mais tempo para definir se vai adquirir o produto por meio de programa da OMS

O Brasil pediu à Gavi Aliança (Aliança Global para Vacinas e Imunização) prorrogação de 30 dias para decidir se entra numa iniciativa global para garantir acesso mais rápido a uma futura vacina contra a covid-19, por um programa da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O Valor apurou que Brasília apoiou uma carta de vários países latino-americanos, por iniciativa da Guatemala, pedindo mais prazo para decidir. Oficialmente, os países interessados teriam que assinar até hoje o contrato para participação no “pool financeiro” que apostará em nove vacinas em desenvolvimento, pelo “Covid-19 Global Access Facility (Covax Facility)”.

O Palácio do Planalto admitiu ontem à noite ter pedido mais prazo para avaliar se irá aderir à Gavi Aliança. A prorrogação é necessária, segundo o governo brasileiro, para que se obtenha mais informações sobre assuntos como condições para a aprovação regulatória, instrumento jurídico aplicável, vacinas em desenvolvimento, suas características de armazenamento e transporte logístico.

O Ministério da Saúde tem muitas dúvidas sobre o mecanismo da OMS. Quer clareza sobre transferência de tecnologia e certeza sobre outros pontos que o mecanismo não prevê. O próprio Covax é um risco pelo qual vários países estão entrando porque têm mais chance de acesso a uma vacina. O mecanismo está apostando em nove delas, em fase de testes. A outra opção é o Brasil trabalhar bilateralmente para obter a vacina. Nesse caso, os custos políticos serão enormes se o governo apostar numa vacina que não dê resultado.

Recentemente, o governo Bolsonaro tinha sinalizado pela opção de comprar vacinas pelo Covax para imunizar 20% da população brasileira, significando 84 milhões de doses (duas para cada paciente). Pelo preço médio de US$ 10,55 por dose, o custo para o país seria de US$ 886,2 milhões (R$ 4,69 bilhões).

A nota da Secretaria de Comunicação do Planalto diz que, “desde junho, o governo brasileiro integra a ACT-Accelerator, iniciativa multilateral que visa acelerar o desenvolvimento, a produção e o acesso a diagnósticos, medicamentos, tratamentos, testes e sobretudo vacinas contra a covid-19”, acrescentando que, em todas as suas tratativas com instituições internacionais, “tem como premissa assegurar o acesso justo e equitativo a vacinas que sejam seguras e eficazes para a proteção da população brasileira contra o novo coronavírus”. Nesse contexto, diz a nota, “o governo estuda criteriosamente a participação do Brasil na Covax Facility”.