Título: União na luta por recursos
Autor: Pompeu, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 17/02/2013, Cidades, p. 21

Para tentar driblar a falta de recursos a fim de desenvolver trabalhos científicos, os pesquisadores brasilienses se organizaram e ganharam, no fim do ano passado, a Associação de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação do DF. Em funcionamento desde outubro de 2012, a entidade reúne pesquisadores, gestores e empresários e propõe colaborar na criação de estratégias para o desenvolvimento das pesquisas da região. A associação fez um levantamento e verificou que pelo menos nove projetos da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa) e 33 da Universidade de Brasília (UnB) já aprovados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do DF (FAP-DF) ainda não receberam qualquer verba nos últimos dois anos.

Esses projetos são referentes a várias áreas do conhecimento. “Estamos completamente desarticulados no DF. Principalmente no que diz respeito à FAP-DF. É o nosso grande gargalo”, aponta a presidente da associação, Maria Sueli Felipe. “A instabilidade de recursos fez com que passássemos a trabalhar com São Paulo, deixando de beneficiar a região”, reclama. Ela compara também a fundação distrital com a de Goiás e diz que a vizinha está bem à frente da brasiliense. “O apoio de empresários em Brasília ainda é incipiente. Mas os microempresários que têm interesse, principalmente na área de tecnologia da informação, não recebem apoio e acabam desistindo”, afirma.

Maria Sueli defende que a associação deve trabalhar não pelo aumento do montante de recursos, mas pela regularidade deles. Na opinião dela, se mesmo sem apoio local Brasília alcançou relativa boa posição nacional, com o fortalecimento da FAP-DF, a consequência vai ser o retorno para a própria cidade, em pesquisas de interesse da população. “Podemos solucionar problemas na área de biotecnologia, saúde, ambiental, lixo, trânsito e mesmo questões de administração pública.”

Vocação Pró-reitor de pesquisa da Universidade Católica de Brasília (UCB), o professor Ruy Caldas acompanhou a trajetória da pesquisa no DF. Ele chegou a Brasília em 1972, quando a produção científica ainda era tímida. “A partir da criação da UnB, na década de 1970, e depois com a Embrapa, a pesquisa ganhou um reforço importante. Porém, naquela época, nós tínhamos apoio local. Isso também contribuiu para criarmos a base que ainda persiste hoje, mas na década seguinte começou a cair”, avalia.

Na opinião do professor, o DF tem grande vocação agropecuária. As áreas de saúde humana e tecnologia da informação também ganham destaque no interesse dos estudiosos e na repercussão dos trabalhos. O grande problema que trava a inovação brasiliense é a ausência de uma atuação forte da Fundação de Amparo à Pesquisa, diz.

Ruy coordena a Rede Pró-Centro-Oeste de Pesquisa, montada para desenvolver a região e reduzir a diferença com Sudeste e Sul do país. “Desde 2010, a nossa fundação não liberou nada do combinado. Acordamos um valor de R$ 150 milhões para os quatro estados em cinco anos. A pesquisa de grande impacto é feita em rede. Um indivíduo sozinho não consegue. Se você não viabiliza o trabalho dessa forma, reduz o desenvolvimento local e regional”, critica. O pesquisador lembra que a UnB e a Embrapa sempre estiveram à frente da pesquisa no DF, mas a Católica tem conseguido espaço nos últimos anos. No entanto, esse crescimento pode ser prejudicado se a situação continuar a mesma.

O decano de Pesquisa e Pós-Graduação da UnB, Jaime Martins de Santana, também cita a falta de financiamento da FAP-DF como um dos grandes problemas. No ano passado, a universidade investiu diretamente em pesquisa cerca de R$ 2,6 milhões. Esse valor atendeu a demanda de 8 mil estudantes de pós-graduação e de 2 mil de iniciação científica, por exemplo. “Estamos em posição muito inferiorizada. A UnB tem um nome e a qualidade de unir ensino, pesquisa e extensão. Já estivemos entre as cinco melhores do país e podemos voltar para lá”, afirma Santana. Ainda não há orçamento previsto para este ano. Outra proposta é retomar as fundações de apoio da própria universidade, usando sistemas de transparência mais eficientes para evitar escândalos, como o que envolveu a Finatec e o ex-reitor Timothy Mulholland em 2008 (leia Para saber mais).

Para saber mais Alvo de escândalo

Criada em 1995, a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec) tornou-se alvo de escândalos depois de a investigação do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) encontrar irregularidades em cinco entidades então ligadas à UnB. A apuração, revelada em 2008, apontou que a Finatec teria destinado R$ 470 mil à decoração do apartamento do então reitor Timothy Mulholland. O escândalo derrubou Timothy do cargo, mas ele foi absolvido pela Justiça. O vínculo da UnB com as cinco fundações de apoio acabou cortado e três perderam o credenciamento — a Finatec, a Fubra (universitária de Brasília) e a Funsaúde (de apoio ao desenvolvimento científico e tecnólogico na área de saúde). Entre as ilegalidades atribuídas à Finatec, havia também a remuneração indireta e irregular de professores contratados com dedicação exclusiva, além da subcontratação de empresas para executar serviços que deveriam ser prestados pelas fundações.