Título: Na liderança do conhecimento
Autor: Pompeu, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 17/02/2013, Cidades, p. 21

O Distrito Federal tem a maior concentração de pesquisadores do país. Levando-se em conta o número de habitantes, a capital concentra um estudioso para cada grupo de 617 pessoas. No total, são 4.161 pesquisadores no DF. Em segundo lugar no ranking, vem o Rio Grande do Sul, com a relação de um para cada 727 habitantes. O estado que reúne o maior número absoluto de estudantes ou profissionais com pesquisa em andamento é São Paulo (são 38,3 mil), mas, em relação à população total, os paulistas ocupam apenas a 7ª posição no ranking nacional, de acordo com dados do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Outro levantamento que mostra a força de Brasília na produção de conhecimento é o total de artigos publicados por pesquisadores brasilienses em periódicos especializados nacionais e estrangeiros. Em um período de quatro anos, foram 22.585 artigos, média de um para cada 113 habitantes. Mais uma vez, os gaúchos vêm em segundo lugar (com uma publicação para cada 126 moradores). São Paulo, que também foi o estado com a maior produção em números absolutos (234,4 mil artigos), teve uma média de 176 e ficou em 5º lugar no ranking nacional. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e se referem aos anos de 2007 a 2010 — este é o último levantamento disponível.

Proporcionalmente, o DF também concentra o maior número de pessoas com mestrado e doutorado em todo o país. Aqui, existe um habitante com mestrado para cada 128 pessoas e um com doutorado para cada 345 moradores, números que superam de longe o eixo Rio-São Paulo (veja ranking). Apesar de ser uma unidade da Federação jovem, ao contrário das grandes regiões do país que possuem longa tradição em pesquisa acadêmica, o DF alcançou boa colocação no cenário nacional. A própria criação de Brasília despertou o interesse de muitos pensadores e, já no início da capital, o lugar criado para ser um polo administrativo logo passou a ser referência em algumas áreas da ciência.

No entanto, pesquisadores se preocupam com a queda da produção de conhecimento, indicada pela perda de posições da maior instituição produtiva, a Universidade de Brasília (UnB), em alguns rankings nacionais e internacionais. A explicação, na opinião dos próprios pesquisadores, está na falta de um apoio distrital e na dependência exclusiva dos recursos federais para o desenvolvimento de projetos.

Reconhecimento A produção bibliográfica desses autores é avaliada de acordo com a publicação de artigos em periódicos especializados, nacionais e internacionais, trabalhos em anais de eventos, livros, capítulos ou resumos de trabalhos. Os brasilienses produziram, em quatro anos, 12.954 artigos com circulação nacional (48% do total) e 9.631 com circulação internacional (42%).

No seleto grupo de pesquisadores de reconhecimento nacional e internacional está Francisco de Aragão. Ele trabalha na Embrapa Recursos Genéticos e tem se destacado por trabalhos como o que criou um feijão resistente ao mosaico dourado, uma doença que acontece no DF. Com isso, a região passou a ter a maior produção de tonelada por hectare do grão no país. “Estamos no local que tem o maior número de pesquisadores de genômica e de biologia molecular per capita do Brasil. Isso ajuda na formação de massa crítica”, diz Aragão.

O grupo do estudioso criou as duas únicas plantas geneticamente modificadas aprovadas para comercialização de Brasília. A partir da experiência e dos resultados positivos que vem conseguindo, a equipe de Aragão circula pelos grandes centros mundiais, como Estados Unidos, Europa e Japão.

Participação Das instituições que produzem conhecimento no DF, a UnB tem posição de destaque. A própria criação da universidade federal alavancou a pesquisa local. A área de relações internacionais, por exemplo, existe há quase 40 anos na UnB. A graduação foi criada em 1974. É pioneira no Brasil e das mais antigas da América Latina. De acordo com o coordenador da Revista Brasileira de Política Internacional, Antônio Carlos Lessa, o departamento tem uma posição privilegiada. “Se você parte de um programa bem estruturado, você tem uma estrutura em desenvolvimento que facilita muito a sua vida. A gente escuta muita tragédia em relação a acesso a dinheiro e recurso, mas não é bem a nossa experiência na área”, afirma.

De acordo com ele, na academia, quanto mais produtivo e mais resultados um curso conseguir, mais fácil será captar recursos. “Temos elevado índice de produtividade, nossos pesquisadores circulam internacionalmente, não nos falta muita coisa. No mundo inteiro, vale uma regra que se chama o Efeito Matheus. Quanto mais produção, mais dinheiro. Quanto mais dinheiro, mais produção”, explica.

A própria edição da Revista Brasileira de Política Internacional garante visibilidade ao curso. Criada em 1958, a publicação não é da UnB, mas editada por professores da instituição. É considerada a revista mais importante no Brasil e está entre as mais influentes da área na América Latina. “É um empreendimento que ainda que não seja da UnB, só é possível torná-lo tão impactante por conta desse ambiente institucional de alto nível que existe na nossa universidade”, resume Lessa. Para ele, a instituição tem relevância no cenário nacional e ainda colhe investimentos feitos nas décadas anteriores. No entanto, alguns rankings mostram que a performance vem caindo e que é preciso voltar a focar em pesquisa.