Título: Pioneiros no comando do DF
Autor: Campos, Ana Maria
Fonte: Correio Braziliense, 17/02/2013, Cidades, p. 24
Em janeiro de 1991, 24 representantes dos mais expressivos setores do Distrito Federal assumiram de forma inédita um mandato conferido por voto popular na capital do país. Pode-se dizer, no entanto, que, agora, mais do que nunca, esse grupo está simbolizado no poder. Dois deputados distritais da primeira legislatura, Agnelo Queiroz (PT) e Wasny de Roure (PT), são os chefes dos poderes Executivo e Legislativo, respectivamente. O vice-governador, Tadeu Filippelli (PMDB), também inaugurou a vida pública no parlamento local. Elegeu-se no segundo mandato da Casa. Pela primeira vez na história, os três políticos mais poderosos do Distrito Federal são egressos da Câmara Legislativa.
Os governadores anteriores tiveram origem distinta. Joaquim Roriz (sem partido) começou como vereador e deputado federal por Goiás. Cristovam Buarque (PDT) ficou conhecido no DF depois de quatro anos na reitoria da Universidade de Brasília (UnB). O primeiro mandato de José Roberto Arruda (sem partido) foi no Senado. Maria de Lourdes Abadia (PSDB) esteve na primeira legislatura da Câmara, mas já tinha sido eleita deputada federal anteriormente — a única entre os 24 distritais com experiência parlamentar. Os demais eram neófitos que participaram da elaboração da Lei Orgânica do DF, do regimento interno e das primeiras leis distritais.
Abadia esteve no Congresso como constituinte. Na segunda eleição no DF, a primeira para o Legislativo local, ela se candidatou. “Para mim, foi uma grande experiência e uma honra. Trabalhei em duas constituições, a federal e a local”, afirma. Médico, Agnelo se elegeu, aos 32 anos, com a bandeira da saúde, prioridade que apresentou na campanha ao governo. Também destacou, na ocasião, a necessidade de uma mudança estrutural no transporte coletivo, outro item importante de seu programa. “Isso mostra que os problemas são crônicos. Já existiam quando me elegi deputado distrital. Critiquei na época e quis o destino que agora estivesse em minhas mãos o desafio de encontrar uma solução. Agora, é resolver ou resolver”, disse Agnelo.
Um das primeiras leis do governador criou uma central de transplantes que implantou no DF uma lista para os pacientes receberem os órgãos. “A intenção era evitar o caráter de favorecimento. Hoje, estamos fazendo uma revolução nessa área, com recordes de procedimentos”, acrescenta o governador. Agnelo é autor também da Lei nº 326/1992, que tornou obrigatório o Teste do Pezinho na rede pública de saúde do Distrito Federal. Todas as crianças nascidas na capital passaram a ter direito ao exame, fundamental para diagnosticar doenças tratáveis, mas que se não forem detectadas a tempo podem gerar consequências irreversíveis. Atualmente, a rede pública faz cerca de 4 mil exames por mês. A cobertura é de 100% das crianças que não apresentam restrições para o teste.
Opositores No PCdoB, Agnelo era um dos seis integrantes da oposição ao primeiro governador eleito na história de Brasília, Joaquim Roriz. Também eram críticos ao Executivo os petistas Wasny de Roure, Pedro Celso, Eurípedes Camargo, Geraldo Magela e Lúcia Carvalho. Entre os deputados críticos a Roriz da bancada independente estava Cláudio Monteiro (PDT), hoje um dos mais próximos colaboradores de Agnelo.
Mais jovem entre todos os eleitos em 1990, Monteiro, primeiro representante da Polícia Civil na Casa, foi escolhido para fazer o juramento de posse dos distritais, que ocorreu no Auditório Petrônio Portella, no Senado, onde funcionava a Comissão do DF, que legislava sobre Brasília antes da criação da Casa. “Ganhamos uma eleição e era tudo por fazer. Não tínhamos experiência nenhuma e chegamos para mudar uma época em que o Executivo tinha poder total”, conta. Monteiro é um dos deputados daquela época que integram a administração de Agnelo.
Mudança de time Além de Monteiro, estão no governo Salviano Guimarães, primeiro presidente da Câmara, Magela, Peniel Pacheco e Tadeu Roriz. Antigo rorizista, Aroldo Satake não está no governo, mas construiu, no início do Legislativo local, uma relação próxima com Agnelo, que o levou a apoiar o petista. “Sempre fui Roriz. Mas eu tinha uma amizade com Agnelo e com Cláudio Monteiro. Por isso, dessa vez, no segundo turno, resolvi ajudar a campanha do Agnelo”, conta Satake, hoje afastado do dia a dia da política. O mesmo ocorreu com Tadeu Roriz, primo em terceiro grau do ex-governador, hoje assessor especial do GDF. “Só seria candidato se um cavalo passasse arriado na minha frente. As campanhas estão muito caras. Trabalho com Agnelo nas missões políticas que ele me passar”, afirma Tadeu Roriz.
Outro rorizista que se aproximou do PT é Gilson Araújo. Primeiro administrador do Paranoá, no ano passado, ele trabalhou durante meses no gabinete da petista Érika Kokay na Câmara dos Deputados. É dele a lei que autorizou a primeira inclusão no orçamento do DF de recursos para a construção da terceira ponte. “Éramos mais atuantes, mais comprometidos com o povo”, compara Araújo, que não conseguiu se reeleger.
Entre os deputados da primeira legislatura, de 1991 a 1994, apenas três ainda têm mandato: Agnelo, Wasny e Magela. Eleito com mais de 19 mil votos, Pedro Celso, o campeão de eleitores, que chegou à Casa depois de comandar o Sindicato dos Rodoviários, está afastado da política desde 2006, quando fracassou nas urnas. Atribuiu o mau desempenho naquele pleito ao desgaste nacional de seu partido. “Foi uma eleição difícil para o PT em Brasília, depois das denúncias do mensalão e daquela história dos aloprados”, analisa. Ele, no entanto, continua influente no PT-DF, como integrante da corrente CNB (Construindo um Novo Brasil).
Eleito presidente da Câmara Legislativa em dezembro último, Wasny de Roure é o único deputado da primeira legislatura ainda na Casa. O petista esteve ausente durante dois mandatos, quando foi deputado federal e suplente na Câmara dos Deputados, mas retornou em 2011 e assume agora o comando do Legislativo, como terceiro na linha de sucessão do DF. “Está claro que a Câmara Legislativa formou muitos políticos no DF. Muitos começaram lá e despontaram, o que reforça a importância da instituição”, avalia Wasny. O único distrital que esteve em todas as seis legislaturas é Benício Tavares. Ele, no entanto, está afastado da política pelos próximos 10 anos em decorrência da cassação de seu mandato pela Justiça Eleitoral em 2011, por abuso de poder econômico.
Compra de dossiê
O chamado escândalo dos aloprados provocou a prisão em flagrante de alguns integrantes do PT, durante a campanha presidencial de 2006, acusados de comprar um falso dossiê para acusar o então candidato tucano ao governo de São Paulo, José Serra, de ter relação com uma máfia que atuou no Ministério da Saúde, os sanguessugas. A intenção era também prejudicar a candidatura de Geraldo Alckmin, adversário de Luiz Inácio Lula da Silva.