O globo, n. 31791, 21/08/2020. Sociedade, p. 11
Vetores da Covid-19
21/08/2020
Aumento da contaminação entre jovens coincide com reabertura das atividades
A reabertura de parte das atividades econômicas em vários estados brasileiros, no início de junho, coincide com uma explosão de casos de Covid-19 entre jovens de 20 a 39 anos. Compilação feita pelo GLOBO a partir de dados do Sistema de Vigilância Epidemiológica, do Ministério da Saúde, mostra um pico de infecções nessa faixa etária 15 dias após a retomada das atividades em várias cidades do país, período que engloba o tempo médio de incubação até o aparecimento de sintomas da doença.
Hoje, os jovens já representam a maioria de casos em estados como São Paulo e Rio de Janeiro. O Brasil já registra, no total, 3.505.097 infectados pelo novo coronavírus. Os mortos somam 112.423, segundo levantamento do consórcio formado por O GLOBO, “Extra”, G1, “Folha de S.Paulo”, UOL e “O Estado de S. Paulo”.
— Os casos entre jovens já eram expressivos nas periferias, onde isso de ficar em casa nunca funcionou na prática. O que acontece é que, coma flexibilização, um fenômeno que era periféricos e estendeu a toda acidade. Todo mundo começou a sair. E os mais vulneráveis para doença grave são os idosos. Mas quem leva a infecção para dentro de casa são os mais jovens, que saem para trabalhar —diz o infectologista Jamal Suleiman, do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo.
A associação entre aumento de infecção entre os jovens e a flexibilização é reforçada pela quedana adesão ao isolamento. Pesquisa Data folha divulgada na terça-feiramos traque o percentual de brasileiros que se dizem isolados caiu ao menornível desde o início da pandemia—principalmente entre os mais jovens.
Na divisão por faixa etária, eles são os que mais assumem “sair de casa para trabalhar ou outra atividade, mas com todo cuidado”. Esse índice é de 53% entre pessoas de 25 a 34 anos, e de 51% entre os de 35 a 44 anos. São, em consequência, os mais expostos à infecção.
Os números nacionais permitem entender como se deu a disseminação do novo coronavírus de acordo coma idade dos infectados e indicam que, entre o início e o final de junho, houve um pico de contágio entre a população mais jovem. O que chama a atenção, contudo, é que o aumento ocorreu inclusive em semanasonde houveu ma quedana infecção por coronavírus no resto da população.
O pico ocorreu na semana entre os dias 14 e 20 de junho, com 1.107 pacientes hospitalizados.
Duas semanas, uma em junho e outra em maio, ilustram bem esse movimento. Segundo dados do Ministério da Saúde, 1.037 jovens entre 20 e 29 anos relataram ter começado a sentir os sintomas da Covid-19 na semana do dia 7 de junho deste ano. Esse é um número 28% maior de casos do que, por exemplo, na semana do dia 10 de maio. E ocorreu mesmo com uma queda de 12% no número total de casos quando comparadas as duas semanas.
Os dados são baseados na data dos primeiros sintomas relatados pelos pacientes. A tendência é que esses números sejam ainda maiores, pois só levam em conta os pacientes hospitalizados.
INCUBAÇÃO
Essa informaçãoécon siderada amais confiável por especialistas para entendera dinâmica de infecção pela doença. Uma pessoa que apresentou seus primeiros sintomas no dia 15 de junho, por exemplo, teve contato com o vírus depois de 1º de junho, uma vez que o período de incubação do vírus dentro do organismo pode ser dedo isa 14 dias.
— O problema é que a doença vem em ondas. E não temos muita clareza de quanto isso vai durar. Tudo o que fazemos hoje veremos como vais e processar n acurvada quia 14 dias—diz Suleiman.
Hoje, a faixa etária que mais concentra casos de coronavírus no Estado de São Pauloé ade 30 a 39 anos. Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde, ela já responde por quase um quarto do total de 730.828 casos confirmados até ontem. São 174.398 pessoas infectadas nessa faixa etária. Já os jovens de 20 a 29 anos somam 120.231 casos de Covid-19 no estado.
Para o coordenador do InfoGripe na Fiocruz, Marcelo Gomes, os dados reforçam a necessidade do rastreamento dos contatos que os infectados tiveram antes de procurar o sistema de saúde. Uma das hipóteses que precisaria de confirmação seria o aumento de casos na faixa etária mais jovem ter levado à transmissão para seus contatos em outras idades, como pais e avós.
— Mas é uma hipótese difícil de ser testada por não termos informações sobre a cadeia de transmissão. Os números servem de exemplo do porquê é importante reduzir significativamente o número de casos antes de tomar medidas de flexibilização. Com números baixos é possível adotar medidas de busca ativa e rastreamento de contatos para conter a transmissão —diz Gomes.
Na cidade do Rio, em julho, a Covid-19 atingiu, principalmente, adultos na faixa de 30 a 39 anos. Eles foram 23,9% das pessoas que adoeceram pela doença nesse período.
Dados recentes de um inquérito sorológico realizado pela prefeitura de São Paulo também ajudam a ilustrar o desafio. Segundo o levantamento, o maior histórico de infecção é na população de 18 a 34 anos, que apresenta 17,7% de prevalência de anticorpos para a Covid-19. Eles têm 2,6 mais risco de contrair a doença do que a população idosa.
“Com a flexibilização, um fenômeno que era periférico se estendeu a toda a cidade. Todo mundo começou a sair. E os mais vulneráveis para doença grave são os idosos. Mas quem leva a infecção para dentro de casa são os mais jovens, que saem para trabalhar”
Jamal Suleiman, Infectologista
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Instituto Butantan receberá R$ 82,5 milhões para vacina
21/08/2020
Verba será repassada por Fapesp e Itaú e direcionada a testes e produção
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e o Todos pela Saúde, fundo criado em abril pelo Itaú Unibanco para o enfrentamento da Covid-19 no Brasil, vão repassar R$ 82,5 milhões para o Instituto Butantan usar no desenvolvimento dos ensaios clínicos de fase três da vacina Coronavac, da chinesa Sinovac Biotech, e na adequação de uma fábrica de produção do imunizante.
A vacina está sendo testada em 9 mil voluntários em todo o país. O Todos pela Saúde vai repassar R$ 50 milhões para a adequação da estrutura fabril do Instituto Butantan para a produção. Já a Fapesp colocará R$ 32,5 milhões no apoio para financiar os ensaios clínicos, que inclui estudos de segurança da vacina em pessoas de maior risco. A fundação também dará apoio ao processo de regulamentação da vacina junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O acordo coma gigante farmacêutica Sinovac Biotech para a produção dav aci napelo Instituto Butantan, que o governo de São Paulo, foi fechado em junho. A direção do instituto acredita que as primeiras doses estarão disponíveis em janeiro.
O anúncio acontece em meio a protestos da comunidade científica contra um projeto de lei enviado pelo governador João Doria à Assembleia Legilslativa que prevê contingenciamento de verbas de universidades estaduais e da própria Fapesp.