Correio braziliense, n. 20930, 12/09/2020. Mundo, p. 12

 

Polícia pede perdão à Colômbia

12/09/2020

 

 

Depois da brutalidade policial que custou a vida do advogado Javier Ordóñez, 43 anos, na quarta-feira, e de violentos protestos que deixaram 13 mortos, o governo da Colômbia pediu perdão público, em nome da polícia. “A Polícia Nacional pede perdão por qualquer violação da lei, ou desconhecimento das normas, em que tenha incorrido qualquer um dos membros da instituição”, declarou o ministro da Defesa, Carlos Holmes Trujillo, acompanhado de comandantes da organização. Trujillo externou “dor e indignação” pelo assassinato de Ordóñez, em um bairro da região oeste de Bagdá.

O major-general Gustavo Alberto Moreno Maldonado, diretor da Polícia Nacional da Colômbia, também falou à imprensa e fez uma declaração em nome dos 161 mil policiais do país. “A Polícia Nacional lamenta infinitamente a morte do senhor Javier Humbero Ordóñez Bermúdez. (…) Quero pedir à família dele perdão por essas ações, que, no momento, são alvos de investigação. A polícia existe para proteger a vida, a honra e os bens de todos os cidadãos. Como diretor encarregado da Polícia Nacional, peço perdão a sua família, perdão aos seus amigos e perdão a todos os colombianos”, disse. Ele sublinhou que a atuação dos agentes envolvidos na abordagem a Ordóñez não faz parte da política da Polícia Nacional.

Os advogados da família da vítima afirmam que os policiais “massacraram” Ordóñez a golpes, no posto policial para onde ele foi levado, depois de receber choques elétricos. Ali, tornou a ser submetido a repetidos choques com uma Taser, pistola elétrica. “Tenho as fotos de como a vítima ficou (…) Javier foi massacrado. Cometeu-se um crime de homicídio agravado e um delito de tortura, pelo menos, um abuso de autoridade”, declarou o advogado Vadith Gómez à Blu Rádio.

O certificado de óbito não foi revelado. Enquanto avança a investigação penal na Procuradoria, a polícia abriu um processo interno contra dois agentes “pelo suposto delito de abuso de autoridade e de homicídio”, acrescentou Holmes Trujillo, segundo o qual outros cinco policiais foram suspensos.

A morte de Ordóñez, um engenheiro que estava perto de concluir seus estudos de direito, deflagrou violentos protestos contra a violência policial que deixaram 13 mortos, além de desencadear uma onda de ataques contra postos de polícia em Bogotá. Os protestos começaram na quarta-feira e, no dia seguinte, espalharam-se para outras cidades, como Cáli e Medellín. Também houve fortes confrontos entre manifestantes e policiais. Entre a noite de quinta-feira e a madrugada de ontem, três pessoas morreram.

O jornal colombiano El Tiempo tentou conversar com Juan Camilo Lloreda Cubillos, um dos policiais envolvidos na morte de Ordóñez. “Estou tranquilo e, até que eu não converse com minha advogada, não tenho autorização para falar”, respondeu. Em um documento entregue ao Ministério Público, ele contou que recebeu um murro no lado esquerdo do rosto, supostamente desferido por Ordóñez, e um soco nas costas, fazendo com que a pistola Taser caísse no chão. O agente acrescentou que atendia a uma denúncia sobre uma briga e que Ordóñez teria agredido uma mulher.