O globo, n. 31791, 21/08/2020. Mundo, p. 31

 

Muro em causa própria

21/08/2020

 

 

Ex-estrategista de Trump, Steve Bannon é preso sob acusação de fraude e sai após pagar fiança

Ex-estrategista do presidente americano, Donald Trump, e autodenominado mentor de um movimento global de extrema direita, Steve Bannon foi preso na manhã de ontem soba acusação de fraude pelo desvio de até US $1 milhão. O dinheiro foi doado por centenas de milhares de pessoas para a “Nós Construímos o Muro”, campanha virtual que buscava arrecadar fundos para erguer o muro entre os EUA e o México.

Ex-estrategista do presidente americano, Donald Trump, e autodenominado mentor de um movimento global de extrema direita, Steve Bannon foi preso na manhã de ontem soba acusação de fraude pelo desvio de até US $1 milhão. O dinheiro foi doado por centenas de milhares de pessoas para a “Nós Construímos o Muro”, campanha virtual que buscava arrecadar fundos para erguer o muro entre os EUA e o México.

FIANÇA DE US$ 5 MILHÕES

À tarde, Bannon, de 66 anos, declarou-se inocente ao se apresentar à Justiça e foi solto com uma fiança de US$ 5 milhões, além de ser proibido de viajar para fora do país.

Foi por meio de Bannon, com quem se reuniu pela primeira vezem 2018, que o deputado federal Eduardo Bolson aro( PS L- SP) estabeleceu relações entre o governo brasileiro e círculos ultraconservadores nos Estados Unidos. 

O ideólogo e os outros três acusados nocas o—BrianKolf age, An dr ewBa do lato eTimothyShe a—teriam“fraudadocentenas de milhares de dólares dos doadores, capitalizando em cima de seu interesse em construir o muro na fronteira”, escreveu a procuradora federal Audrey Strauss.

“Os acusados secretamente agiram para desviar centenas de milhares de dólares para Kolfage [fundador da campanha “Nós Construímos o Muro], para que ele mantivesse seu estilo de vida luxuoso”, completou. 

A campanha, segundo a denúncia criminal, teria arrecadado US$ 25 milhões para erguer o símbolo da plataforma anti-imigração de Trump. Bannon foi estrategista-chefe do presidente até sua destituição, em 2017, e é considerado um dos principais responsáveis pela vitória do republicano em 2016.

Comentando a prisão, Trump buscou se afastar da iniciativa da campanha.

—Eu acho que é uma coisa muito triste para o Bannon. 

Eu acho que é surpreendente —disse. —Eu não gostava daquele projeto [a campanha “Nós Construímos o Muro”].

Em comunicado, a Casa Branca disse que Trump não tinha relação com o projeto.

Ainda segundo a denúncia, Kolfage teria prometido aos doadores que não pegaria “um centavo que fosse de salário e compensação” eque os fundos seriam destinados exclusivamente à campanha. No entanto, ele secretamente teria desviado mais de US$ 350 mil para uso pessoal, com despesas como cirurgias estéticas, carros de luxo, barcos, joias e reformas domésticas. 

Bannon foi preso em Connecticut em um iate do empresário chinês Guo Wengui, procurado pela Justiça em seu país e que vem financiando as atividades políticas do ideólogo.

ALIADOS ENCRENCADOS

O ex-estrategista teria recebido US$ 1 milhão da campanha por meio de uma organização sem fins lucrativos. Parte da quantia teria sido usada para pagar despesas pessoais e para pagarKolfage.P ara encobriras operações, uma segunda companhia de fachada também teria sido usada, assim como notas fiscais falsas. 

Veterano das Forças Armadas que perdeu as duas pernas em 2004, no Iraque, Kolfage iniciou a campanha para erguer o muro em 2018, buscando arrecadar US$ 1 bilhão. Os três homens são acusados formalmente de lavagem de dinheiro e conspiração para cometer fraude. Cada uma das acusações é passível de até 20 anos de prisão.

Tal qual Bannon, outros aliados e ex-aliados do presidente estão em apuros legais. Estrategista e amigo pessoal de Trump, Roger Stone foi condenado a 40 meses de prisão por mentir ao Congresso e obstrução de testemunha nas investigações do promotor especial Robert Mueller sobre interferência russa nas eleições de 2016. Ele teve sua pena comutada por Trump.

Michael Cohen, ex-advogado do presidente, é acusado de fraude, mentir para o Congresso e violar leis de financiamento de campanha ao pagar duas mulheres para não revelarem supostos casos com Trump em 2016. 

Já o ex-gerente da campanha de 2016, Paul Manafort, foi condenado a sete anos e meio de prisão por crimes bancários e fiscais. Ex-subchefe da campanha, Rick Gates foi sentenciado a 45 dias de prisão e três anos de liberdade provisória por admitir que ajudou Manafort a esconder US$ 75 milhões no exterior.