O globo, n. 31790, 20/08/2020. País, p. 7

 

Com comida mineira, Bolsonaro estreita laços com parlamentares

Gustavo Maia

Daniel Gullino

20/08/2020

 

 

Presidente convidou senador aliado de AlcoIumbre para ser vice-líder do governo

 O presidente Jair Bolsonaro apostou ontem na comida mineira para estreitar ainda mais os laços com o Congresso. Terceirizando a elaboração do cardápio para o deputado Fábio Ramalho (MDB-MG), famoso na capital por oferecer almoços e jantares a políticos, o presidente recebeu no Planalto deputados e senadores de diversos partidos, entre eles PP, MDB e PSL.

—Foi bastante deputado, senador. Foi uma comida bem mineira com um papo bem diversificado, com pessoas de várias partes do país. É mais uma conversa de pé de ouvido. Uma maneira de ele estar conversando com cada um — afirmou Ramalho.

Bolsonaro não fez discursos e teve apenas conversas particulares com os parlamentares presentes.

—Foi um almoço informal. Não era um almoço de trabalho. Sem pauta definida, sem discurso, sem nada —relatou Laércio Oliveira (PP-SE).

Apesar de formalidades terem sido evitadas, o presidente aproveitou o momento para convidar o senador Marcos Rogério (DEM-RO) para ocupar uma das vagas de vicelíder do governo no Congresso, no lugar do deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), escolhido na semana passada para ser o novo líder do governo na Câmara. Marcos Rogério é aliado próximo do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Estiveram também no almoço os ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Walter Braga Netto (Casa Civil), os líderes do governo na Câmara (Ricardo Barros), no Senado (Fernando Bezerra Coelho) e no Congresso (Eduardo Gomes), além do deputado Arthur Lira (PP-AL), líder informal do governo na Câmara, dois dos filhos de Bolsonaro (o senador Flávio e o deputado Eduardo), do ator Thiago Gagliasso, entre outros.

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Deputados tucanos ligados a Aécio tentam aderir à base do governo

Natália Portinari

Naira Trindade

20/08/2020

 

 

Por trás da movimentação para tornar Celso Sabino (PSDB-PA) líder da maioria na Câmara dos Deputados — por enquanto, sem sucesso — há a tentativa de alguns deputados do PSDB de aderir à base do governo. Contra a vontade de lideranças do partido, o grupo de Aécio Neves (MG) quer participar das negociações entre Jair Bolsonaro e o centrão.

A expectativa de seus aliados é de que, ao se tornar líder da maioria, Sabino ganhasse capital político para negociar cargos e verbas para seus colegas do PSDB. Dez partidos entregaram um requerimento para que Sabino assumisse o cargo. O PSL e o Republicanos, porém, desistiram da manobra. Por ora, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), próximo do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), segue como líder da maioria.

Na bancada do PSDB, há os aliados de Aécio — grupo que inclui Sabino e teria até dez deputados— e outros mais próximos do PSD B paulista e de João Do ria, governador de São Paulo. Para os primeiros, a sigla adota uma posição hipócrita em relação ao governo Bolsonaro: é fiel na maioria das pautas, mantém um senador (Izalci Lucas, PSDB-DF) como vice-líder do governo no Senado, mas prega um discurso de independência.

Já o segundo grupo defende que, embora o PSDB esteja alinhado com o Executivo na pauta econômica, o partido não deve integrar o centrão ou participar da negociação de cargos e verbas. Formando a maioria da bancada de 31 deputados, eles criticamos colegaspor supostas motivações fisiológicas para a aproximação com o governo.

Arthur Lira (AL), líder do PP e articulador informal de Jair Bolsonaro na Câmara, capitaneou o movimento para tornar Sabino líder da maioria. Ele quer atrair “no varejo” os aecistas do PSDB para votar com o bloco de partidos do centrão pró-governo na Câmara, comandado por ele.

De quebra, com essa aproximação, Lira fortalece sua candidatura à presidência da Casa. A liderança do PSDB deve apoiar a chapa do DEM e do MDB. Mas Lira quer conquistar votos individuais, porém, no grupo de Aécio Neves.

Após o GLOBO revelar que Sabino aceitou ser indicado pelo centrão para ser líder da maioria, o PSDB deu início a um processo que pode levar à expulsão do deputado.