Valor econômico, v. 21, n. 5088, 17/09/2020. Política, p. A14

 

Líder do governo é alvo de ação de busca e apreensão

Raphael Di Cunto

17/09/2020

 

 

Ação refere-se a período em que Barros era secretário na gestão de Beto Richa

O Ministério Público do Paraná (MP-PR) fez ontem ações de busca e apreensão no escritório em Maringá (PR) do líder do governo Bolsonaro na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR). Ele é investigado pela suspeita de ter recebido R$ 5 milhões em propina para negociar a compra de energia eólica pela Companhia Paranaense de Energia (Copel), empresa de economia mista controlada pelo governo do Paraná. Na época, Barros era secretário na gestão do ex-governador Beto Richa (PSDB).

O caso, acreditam deputados próximos a Barros, não deve resultar na saída da liderança do governo, função que ele assumiu há poucos dias para dar mais experiência à articulação política na Câmara, até então a cargo do novato Vitor Hugo (PSL-GO). A acusação se refere à questões antigas e o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), também é investigado na operação Lava-Jato, mas foi mantido no cargo pelo presidente Jair Bolsonaro mesmo assim.

Barros divulgou nota à imprensa dizendo estar “tranquilo” com a ação da política e ter “conduta ilibada”. Afirmou ainda que pediu acesso ao processo para poder prestar esclarecimento à sociedade e se defender, mas também atacou a operação. “Ricardo Barros, relator da Lei de Abuso de Autoridade, repudia o ativismo político do Judiciário”, disse no texto. Essa lei permite punir juízes e promotores por “abusos” e foi vista como uma retaliação à operação Lava-Jato.

O Ministério Público investiga os crimes de lavagem de dinheiro e corrupção, mas o processo corre sob segredo de Justiça. Segundo o portal “G1” do Paraná, Barros teria intermediado a compra de ativos da empresa São Bento Energia, controlada pela Galvão Engenharia, pela Copel quando ele era secretário de Indústria e Comércio do Paraná. Ele teria recebido R$ 1,5 milhão em dinheiro entre 2013 e 2014 e o resto como doação eleitoral para o diretório nacional do PP, do qual é tesoureiro e presidente estadual.

A prestação de contas registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aponta doação de R$ 3,5 milhões para o diretório nacional do PP em 2014, dos quais R$ 627 mil foram para a campanha de Barros a deputado federal e outros R$ 2,7 milhões para a campanha de outros candidatos do PP do Paraná ou da coligação.

A acusação é parte da delação premiada de executivos da Galvão Engenharia em meio à operação Lava-Jato e foi remetida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2019 para o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-PR por Barros não ter direito ao foro privilegiado neste caso, já que não tem relação com o mandato como deputado federal.

De acordo com o “G1”, com base em informações do Ministério Público, a Copel realizou uma consulta pública para compra de energia eólica e a Galvão Engenharia, dona da São Bento Energia, teria pago propina a Barros para que a estatal fechasse negócio com sua empresa. A aquisição ocorreu em duas etapas: em 2011, a Copel pagou R$ 38,9 milhões por 49,9% da São Bento; e em 2013, adquiriu o restante da empresa por R$ 109,5 milhões. Nos dois casos, Barros teria cobrado uma taxa e um adicional sobre o valor da compra.