Título: Para 60% dos analistas, juros sobem em abril
Autor: D´Angelo, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 19/02/2013, Economia, p. 11

Após a ressaca do carnaval, a semana começou mal para o governo, com duas péssimas notícias. A primeira é que os analistas do mercado reduziram novamente a expectativa do crescimento econômico em 2013. A outra é que aumentaram as apostas de que as taxas de juros voltarão a subir no país já em abril. A pesquisa Focus divulgada ontem pelo Banco Central aponta que os especialistas esperam agora avanço de 3,08% do Produto Interno Bruto (PIB), frente às previsões de 3,09% da semana anterior e de 3,19% de um mês atrás.

Já a alta da taxa Selic em abril é esperada por 60% dos investidores, que negociaram ontem um volume recorde de 19.986 contratos no mercado futuro de juros atrelados à taxa média do DI (Depósitos Interfinanceiros). Na sexta-feira, 50% deles contavam com a alta da Selic. Eles acreditam que ela subirá pelo menos 0,25 ponto percentual em abril, passando de 7,25% para 7,5% ao ano.

Nem mesmo o fato de os analistas ouvidos pela Focus terem reduzido a projeção para a inflação deste ano, depois de seis semanas seguidas de revisão para cima, afetou a expectativa quanto à trajetória de alta dos juros. Conforme a pesquisa, os especialistas consultados esperam agora inflação anual de 5,7%. Na semana passada, a estimativa era de 5,71%. O motivo para o aumento da certeza de que a equipe econômica mexerá na principal bandeira da gestão da presidente Dilma Rousseff — os menores juros da história do país — foi a declaração do ministro da Fazenda, Guido Mantega, na semana passada, de que a taxa de juros é o instrumento de controle da inflação, e não o câmbio.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado na sexta-feira que antecedeu o carnaval, alcançou 6,15% no período acumulado de 12 meses, depois de atingir 0,86% somente em janeiro, espalhando o temor de que o controle do custo de vida será mais difícil do que o governo espera, sem aumentar os juros. O presidente do BC, Alexandre Tombini, já havia assumido dias antes o desconforto com a insistente alta dos preços e afirmara que a inflação "preocupa a curto prazo".

O economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, Alex Agostini, reconhece que o governo vai fazer o que puder para evitar mexer na Selic mais baixa da história brasileira, mas diz que não vê outra saída. "Será inevitável subir os juros", afirmou. A dúvida é em relação ao momento em que Tombini vai elevar a Selic. Para a Agostini, isso deve acontecer a partir de julho, "em doses bem moderadas", o que já foi anunciado pela Austin em outubro de 2012. "Pode ser que esse prazo seja encurtado. O mercado já fala em alta a partir de abril", comentou.

IPC-S desacelera

O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) desacelerou 0,55% na segunda quadrissemana de fevereiro, depois de avançar 0,88% no período anterior, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV). Cinco dos oito grupos que compõem o indicador reduziram o ritmo de elevação, com destaque para habitação, cujos preços registraram queda de 1,25%. A principal influência para esse movimento partiu do item tarifa de eletricidade residencial, que recuou 13,39%.