O globo, n. 31793, 23/08/2020. País, p. 4

 

De olho em Bolsonaro

23/08/2020

 

 

Avanço da popularidade do presidente mexe com alianças eleitorais no Rio e em São Paulo

 O crescimento da popularidade do presidente Jair Bolsonaro — sua aprovação atingiu 37%, segundo o Datafolha, melhor índice desde o início do mandato — modificou o cenário político das principais capitais às vésperas das eleições municipais de novembro. A uma semana do início das convenções partidárias, a definição dos candidatos a vice nas principais chapas no Rio e em São Paulo sofre influência dos movimentos do presidente, que vem se reaproximando do PSL, seu antigo partido, e da necessidade de buscar ao menos parte do eleitorado que o apoia, sem abdicar de quem o desaprova.

Esse é o dilema no Rio, onde, por exemplo, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) negocia com o PSL, posiciona-se na oposição ao atual prefeito e aliado de Bolsonaro, Marcelo Crivella (Republicanos), mas faz cálculos para não perder o eleitorado órfão após a saída de Marcelo Freixo (PSOL) da disputa. Já em São Paulo, para além das divisões internas do campo bolsonarista, que se agravaram após o presidente dar sinais de que pode fazer as pazes com o PSL, a presença de Márcio França (PSB) num evento com Bolsonaro abriu uma crise entre partidos aliados de esquerda. Apesar de o presidente ainda manter o discurso de que evitará apoios explícitos no primeiro turno, sua movimentação nos bastidores tem cada vez mais peso, principalmente nos acordos negociados pelo PSL. A sigla de Luciano Bivar é cobiçada também pela generosa parcela a que tem direito do “fundão” eleitoral, de R$ 199,4 milhões.

A destinação dos recursos partidários foi um dos motivos para o atrito entre Bolsonaro e Bivar no ano passado. A sigla tem ainda o segundo maior tempo de propaganda eleitoral em rádio e TV. Diante da tentativa frustrada de fundar seu próprio partido, Bolsonaro e deputados aliados na Câmara trocaram acenos nos últimos meses com o presidente do PSL e passaram a pleitear espaço nas disputas municipais. As convenções partidárias devem acontecer entre 31 de agosto e 16 de setembro, após terem sido adiadas por um mês devido à pandemia do coronavírus.

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Crivella e Paes tentam seduzir PSL e deixam vices em aberto

Bernardo Mello

23/08/2020

 

 

Falta de definição sobre cabeça da chapa abala bloco de PDT, PSB e Rede

 Dono da segunda maior fatia do fundo eleitoral neste ano, o PSL vem sendo cortejado pelo atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), e pelo ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), ambos pré-candidatos na capital fluminense. Nomes mais conhecidos do eleitorado, Paes e Crivella mantêm seus postos de vice em aberto, de olho numa composição coma antiga sigla do presidente Jair Bolsonaro. Crivella, que costurou um apoio velado de Bolsonaro, acenou à deputada federal Major Fabiana (PSL-RJ) com o posto de vice. Mulher e policial militar, dois pelogrupo de Crivella, Fabiana perdeu força, porém, após virem à tona vídeos antigos em que chama o prefeito de “incompetente”.

O PSL lançou, no ano passado, ap ré-candidatura do deputado estadual Rodrigo Amorim, apoiada à época pelo senador Flávio Bolsonaro, que migrou para o Republicanos, partido de Crivella. Hoje, Amorim enfrenta resistência de membros do parti doque temem um desempenho eleitoral ruim sem o apo ioda família Bolso n aro. No início do mês, Flávio notificou extrajudicialmente o ex-aliado proibindo-ode usar sua imagem na campanha deste ano. —Temos duas frentes de batalha: demitir o pior prefeito da história e impedir que a esquerda, derrotada em 2018, faça do Rio seu bunker. A pré-candidatura é uma realidade, e a decisão do partido sempre será soberana —afirmou Amorim.

Uma alternativa defendida por membros do PSL mais ligados ao presidente nacional Luciano Bivar é que Amorim seja o vice na chapa de Eduardo Paes, que tem buscado rivalizar com Crivella no eleitorado mais conservador. Paes também mantém conversas com o Cidadania, do deputado e pré-candidato Marcelo Calero, e com o PL, de Marcos Braz, dirigente do Flamengo —que não definiu se deixará o clube para concorrer. A disputa pelov oto bolson arista envolve também asp ré-candidaturas do PT B, de Cristiane Brasil, e do P SC, disputada entre a ex-juíza G eloízaeo deputado federal Otoni de Paula. Aliado de Bolsonaro na Câmara, Otoni se recusou a apoiar Crivella e tem afirmado que apresentará seu nome na convenção, no dia 31, apesar de rompido com o governador Wilson Witzel e com o presidente da sigla, Pastor Everaldo. A incerteza na escolha do vice estremeceu o bloco de esquerda costurado por PDT, PSB e Rede, formado sema definição de quem seria o cabeça de chapa.

O PDT já não pretende abrir mão de lançar a deputada estadual Martha Rocha, o que incomodou partidários de Eduardo Bandeira de Mello, pré-candidato pela Rede. Bandeira diz manter diálogo com Martha enquanto ambos aguardam uma pesquisa interna, que deve ficar pronta nesta semana.

— Foi combinado que, perto da convenção, veríamos quem tem mais chance, e essa pessoa receberia apoio dos demais —diz Bandeira.

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Em SP, nome conservador é cotado para chapa com Covas

Silvia Ammorim

Sérgio Roxo

23/08/2020

 

 

Ala do PSL quer substituir Joice; postura de Márcio França irrita PDT

 O ganho de popularidade do presidente Jair Bolsonaro e abusca por eleitores que são simpáticos ao governo também impactaram o cenário eleitoral em São Paulo. Umadas possibilidades trabalhadas pelop refeito Bruno Covas( PSDB),qu eva idis pu tarar eeleição,éa trair para a sua chapa o deputado federal Celso Russomano (Republicanos), em uma tentativa de buscar o voto conservador. Já no campo da esquerda, o ex-governador Márcio França (PSB) tem feito gestos em direção ao bolsonarismo, o que já irritou o PDT, que compõe sua aliança. Covas conseguiu montar um amplo leque de apoio, mas enfrenta o desafio de encontrar um companheiro de chapa que agrade a todos. A primeira opção era José Luiz Datena (MDB) — figura conhecida, popular e simpática a Bolso naro—,m aso apresentador desistiu de concorrer. Surgiu, então, ono mede Russo mano, forte entre o eleitorado conservador. O deputado federal foi lançado pelo partido como pré-candidato a prefeito, mas seu voo solo é incerto. Ele já concorreu em 2012 e 2016, mas nunca chegou ao segundo turno.

Outro grupo ligado ao prefeito defende a escolha de uma mulher, e a campanha tucana faz pesquisas para encontrar o perfil que mais agradaria ao eleitor. Um dos nomes cotados representaria uma estratégia distinta: a ex-prefeita Marta Suplicy (Solidariedade). Ela foi citada por Covas em duas inaugurações nas últimas semanas, num gesto político de aproximação. Marta, entretanto, deseja a construção de uma frente ampla de oposição a Bolsonaro na cidade e vinha negociando alianças com o PT e com França. Mas, por motivos diferentes, se desencantou com os projetos de ambos os partidos. No PSL, antigo partido de Bolsonaro, Joice Hasselmann chega à corrida para a prefeitura com menos popularidade do que há um ano, quando já tinha planos de testar seu nome numa eleição majoritária. Após romper com o presidente, a deputada federal tem tentado uma reaproximação, mas não tem nema garantia da direção nacional de que será agraciada com recursos generosos. Uma ala bolsonarista do PSL articula sua substituição pelo deputado federal Luiz Philipe de Orléans e Bragança.

No campo da esquerda, França vinha construindo um bloco com o PDT, mas seu gesto em direção a Bolsonaro, ao participar de uma agenda com o presidente no início do mês, desagradou. Após o episódio, Marta Suplicy se afastou, e o PDT fez críticas, mas manteve a aliança. Para os adversários, se França insistir nessa estratégia, vai abrir caminho à esquerda para as pré-candidaturas de Jilmar Tatto (PT) e Guilherme Boulos (PSOL). Tatto vem enfrentando dificuldades para conter a adesão de nomes ligados ao PT à candidatura de Boulos, como o cantor Chico Buarque e o ex-chanceler Celso Amorim. A presidente do PT,Gleisi Hoffmann, chegou a falar que poderia aplicar a punições a filiados que não apoiassem Tatto.