Título: Operários escapam de incêndio em hotel
Autor: Sarapu, Paula
Fonte: Correio Braziliense, 15/02/2013, Brasil, p. 7

Os operários da empresa Montplam Construções, que viviam havia cerca de quatro meses em um hotel desativado na Avenida Cardeal Eugênio Paccelli, em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, estavam alojados de forma irregular, segundo o Corpo de Bombeiros. O prédio pegou fogo na madrugada de ontem e pelo menos 50 pessoas foram intoxicadas. Um curto-circuito pode ter provocado o incêndio, que atingiu o primeiro andar. Desesperados, operários que estavam no terceiro andar ameaçaram pular pelas janelas, a 20 metros de altura. Dois vizinhos tiveram que abrir um buraco na parede e usaram uma escada como ponte para salvar 20 funcionários da construtora. Os demais conseguiram arrombar a porta principal. O incêndio começou por volta das 2h. Segundo o mestre de obras Rogério Queiroga da Silva, 26 anos, que ajudou no resgate, os operários que dormiam no terceiro pavimento ficaram encurralados pelo fogo. Havia muita fumaça e o rapaz acordou com os gritos de socorro. Ele usou uma marreta para abrir um buraco na parede do hotel — como os voluntários que ajudaram no resgate das vítimas do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), no fim de janeiro. No primeiro andar, o fogo estourou a vidraça e os outros funcionários usaram um sofá para arrombar a porta principal, que estava trancada. “Tinha forro, colchão e travesseiro, que podem ter espalhado rapidamente o fogo. Ninguém conseguiu encontrar a chave e eles enfrentaram a fumaça para sair pela porta. Se eu não abrisse o buraco, eles não teriam conseguido fugir”, contou Rogério. “Depois, fiquei pensando que poderia ter acontecido uma tragédia como no Sul.”

Segundo o Corpo de Bombeiros, o hotel desativado não tinha auto de vistoria da corporação, documento necessário para funcionamento. “O lugar não oferecia condições de hospedagem e não poderia estar sendo usado”, disse o capitão Frederico Pascoal. Para o diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção de Belo Horizonte e Região, Vilson Valdez da Silva, os operários não poderiam estar alojados no hotel desativado. “As condições de moradia eram precárias. Pelo que pude ver, aquele hotel era um lugar abandonado e sem nenhuma ventilação”, disse ele. “As empresas costumam trazer funcionários do interior e os deixam escondidos assim, até serem denunciados ou acontecer uma tragédia.”

Dez viaturas dos bombeiros ajudaram no salvamento. O Hospital Municipal de Contagem informou que atendeu 46 pessoas e, até o fim da tarde, seis ainda estavam internadas, todas estáveis, sem risco de morte. Segundo o sindicato, o Ministério do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho foram acionados para apurar o caso. Fiscais da Gerência Regional do Trabalho de Contagem, que abriu procedimento administrativo, fizeram uma vistoria na tarde de ontem. O relatório deve ser divulgado hoje.