Título: China perde fôlego e assusta empresários
Autor: Vieira, Marta; Bottrel, Frederico
Fonte: Correio Braziliense, 07/05/2012, Economia, p. 9

Queda no ritmo de atividade provoca recuo de 33% das exportações brasileiras e força a busca por outros mercados. Produtores de soja e de minério de ferro são os mais afetados

Guanxi, Brasil! A expressão que abre as portas para os investidores forasteiros no mundo dos negócios chinês, selando uma "relação próxima e de confiança", ganha ares de mantra para empresas brasileiras, depois do freio imposto à economia do gigante asiático. De janeiro a março, a economia chinesa cresceu 8,1%, mostrando desaceleração frente à expansão de quase 9% no quarto trimestre de 2011. As exportações pesaram no resultado, que baixou pela quinta vez.

Na balança de comércio do Brasil, as exportações para a China alcançaram US$ 7,9 bilhões no trimestre, representando variação de 33 pontos percentuais abaixo do aumento de 2010 para 2011, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Exportadores e importadores chineses e brasileiros e especialistas ouvidos pelo Correio passaram a trabalhar num novo contexto de queda do fluxo de produtos entre os dois países e buscam opções para reduzir a dependência da oferta chinesa. As estratégias passam pela exploração de outros mercados na Ásia, a exemplo de Cingapura, Indonésia e Malásia, e pela abertura de canais de vendas de artigos sem similar nacional no Brasil.

A redução da demanda chinesa só começou , especialmente, em produtos de que o Brasil é forte exportador, como minério de ferro e soja, para Tang Wei, diretor-geral da Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico. "Certamente, esse movimento ocorrerá, mas num segundo momento acredito num ajuste que muda o modelo de um país dependente de exportações para uma economia mais equilibrada e amparada num mercado de consumo interno mais forte", afirma.

Importações Com esforço das empresas e do próprio governo brasileiro, Tang Wei acredita que o país pode se aproveitar para exportar à China alimentos e produtos manufaturados, uma necessidade que tende a crescer nesse estágio mais à frente avaliado pelo diretor. Uma das boas possibilidades está no comércio de leite e derivados, produtos que os chineses importam em grande quantidade.

Os rumos da outra via de comércio, as importações brasileiras com origem na China ainda representam uma incógnita no cenário de crescimento mais baixo do país asiático e de medidas mais restritivas ao ingresso de importados no Brasil. De janeiro a março, as importações seguiram aumentando 13,9% no Brasil. O interesse dos investidores chineses pelo Brasil não arrefeceu. As consultas à Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China continuam, segundo Daniel Manucci, diretor da instituição. Para ele, o maior problema do Brasil não é a concorrência internacional. "Nós é que não conseguimos criar mecanismos para nos tornarmos mais competitivos", resume.