Correio braziliense, n. 20935, 17/09/2020. Política, p. 5

 

Demitido por usar avião da FAB volta ao governo

17/09/2020

 

 

Após ter sido exonerado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, no final de janeiro, por ter utilizado um avião da Força Aérea Brasileira para viagens à Suíça e à Índia, o ex secretário-executivo da Casa Civil Vicente Santini está de volta ao governo. Mas, agora, retorna como assessor do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, com um salário de R$ 13.623,00. A nomeação foi publicada ontem, no Diário Oficial da União (DOU). Os processos a que ele respondia por suposto uso irregular das aeronaves da FAB foram encerrados por não apontarem infrações.

Ainda em janeiro, menos de 24 horas depois de sua exoneração, o governo tentou realocá-lo no cargo de assessor especial da Secretaria Especial de Relacionamento Externo da Casa Civil. Com a nova polêmica, Bolsonaro decidiu tornar sem efeito a nomeação.

O episódio da utilização do aparelho da FAB refere-se ao período em que o então ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, estava de férias nos Estados Unidos. Santini viajou na posição de ministro em exercício para uma reunião do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, e, em seguida, para a Índia –– onde se encontraria com a comitiva do presidente Jair Bolsonaro, que fazia visita oficial. Ele até deu carona a duas assessoras nas duas viagens, enquanto outros ministros viajaram em voo comercial.

A saída de Santini foi decidida no mesmo dia em que Bolsonaro retornou da viagem à Nova Délhi, em 28 de janeiro. O presidente se mostrou incomodado com o uso da aeronave e lembrou que, quando não era chefe de Estado, viajou para a Ásia em aviões comerciais e de classe econômica. E chegou a caracterizar como inadmissível o gasto de recursos públicos tal como o feito por Santini. “O que ele fez não é ilegal, mas é completamente imoral”, reagiu.

Advogado e filho de general do Exército, Santini é amigo de infância de Flávio e de Eduardo Bolsonaro. Na abertura de uma das investigações, o subprocurador-geral do Ministério Público de Contas, Lucas Furtado, pediu ao Tribunal de Contas da União (TCU) uma investigação contra o então núimero dois da Casa Civil pelo uso do jato. Classificou como “imoral” a viagem em avião da FAB à Índia e pediu ressarcimento pelo gasto com a viagem. (IS)