Correio braziliense, n. 20935, 17/09/2020. Cidades, p. 18

 

Infecção desacelera

Mariana Machado

Thais Umbelino

17/09/2020

 

 

O índice de transmissão pelo novo coronavírus entre a população do Distrito Federal apresentou queda na primeira quinzena de setembro. É o que indica novo boletim divulgado, ontem, pelo Observatório PrEpidemia, iniciativa da Universidade de Brasília (UnB) que acompanha o avanço da covid-19. De acordo com o estudo, a taxa de transmissão da doença — R(t) —, entre indivíduos está em 0,88, o que significa que, em média, 100 infectados transmitem o vírus a 88 pessoas durante o período de contaminação. O número representa um declínio de cerca de 10% comparado ao último boletim divulgado em 2 de setembro, que registrou taxa de 0,98.

Mas, segundo o professor Paulo Ângelo Resende, da Associação GigaCandanga e um dos pesquisadores do estudo, apesar da queda, o número ainda representa uma alta taxa de contaminação da doença na capital. “De um lado, podemos comemorar, porque o índice de transmissibilidade está abaixo de um, porém isso não quer dizer que estamos bem. Segundo nossas estimativas, o valor já era esperado e tende a cair, a custa de muitos óbitos pela frente”, alerta.

A estimativa é de que, até 31 de dezembro, sejam registradas 3.107 mortes e que o valor da taxa fique entre 0,60 e 0,91. “Com cada vez menos infectados, a tendência é de que o R(t) não caia na mesma velocidade que caiu nos últimos dias”, acrescenta Paulo. Para evitar a proliferação da doença na capital e queda significativa do número de mortes, os estudiosos recomendam que a população aumente nível de controle da doença, com a adoção das medidas de segurança e que o governo invista em inteligência epidemiológica para reduzir evolução da epidemia.

Em nota oficial, a Secretaria de Saúde informou que monitora a situação epidemiológica do DF e que “considerando uma estabilização no número de casos verificada recentemente, registrou uma redução no número de mortes, que está coerente com a redução no número de casos que têm ocorrido desde meados de julho”. Além disso, reforçou que promove, diariamente, ações de fiscalização para verificar o cumprimento dos decretos publicados durante a pandemia. “Cerca de 20% dessas ações são feitas a partir de denúncias encaminhadas à Diretoria de Vigilância Sanitária (Divisa).”

Medo que fica

Mesmo depois de ser infectada pelo novo coronavírus, a conselheira tutelar Lucinete de Andrade, 46 anos, continua com medo do vírus. “Não sabemos se quem pegou a doença está realmente imune a ela. Existem casos de reinfecção e, por isso, prefiro evitar ao máximo me expor”, conta. Ela e os dois filhos — Mayara de Andrade, 17; e Hugo Matheus de Andrade, 23 — foram diagnosticados com a covid-19 em agosto. “Foi muito desgastante essa fase, principalmente, porque ficava o tempo inteiro pensando que não podia piorar e deixar meus filhos sozinhos. Isso mexeu demais com o meu psicológico. Tudo que não quero é me reinfectar”, conclui Lucinete.

A doença deixou marcas irreparáveis na família de Zamita Carvalho, 48, com a perda do primo Ilton Elizeu dos Santos, 52. “A covid-19 é um trauma na nossa família e gostaria de pedir para que as pessoas levem a doença a sério, tenham mais responsabilidade com o próximo e se cuidem”, pediu Zamita.

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3 mil mortos registrados 

17/09/2020

 

 

Os dados mais recentes divulgados, ontem, no boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde, mostram um total de 179.823 casos confirmados da doença, com 3 mil mortes, das quais 2.754 eram de moradores do DF. Nas últimas 24 horas, a capital registrou 30 óbitos e 1.076 casos da doença. Ceilândia continua como a região mais afetada pelo novo coronavírus, com 21.931 infecções, seguida por Taguatinga (14.637) e Plano Piloto (14.246).

Especialistas afirmam que é possível uma nova onda de crescimento dos casos. Tarcísio Rocha Filho, pesquisador do Núcleo de Altos Estudos Estratégicos para Desenvolvimento do Centro Internacional de Física e do Instituto de Física da UnB, avalia que, ao menos, mais 6 mil mortes são esperadas. “Achar que porque o número de casos no DF está baixando, tudo pode voltar ao normal, é errado. Em todos os lugares que se fez isso, os números tornaram a aumentar”, argumenta.