Título: Tom de campanha
Autor: Sefrin, Felipe; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 21/02/2013, Política, p. 2

Na comemoração dos 10 anos do PT à frente do Planalto, Lula diz que a resposta à oposição será dada em 2014 com a reeleição de Dilma. A presidente, por sua vez, afirma que as críticas ao baixo crescimento econômico do país são tendenciosas

Cinco horas depois que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) subiu à tribuna do Senado para dizer que o PT tem como lógica a reeleição (leia matéria na página 4), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu razão ao provável candidato da oposição em 2014. Após um discurso político ácido e crítico em relação ao PSDB, Lula afirmou que a principal resposta do PT aos adversários será dada no ano que vem. “Eles podem se preparar, podem juntar quem eles quiserem. Nós vamos dar como resposta a reeleição da Dilma em 2014. É essa a consagração da política do PT”, disse o ex-presidente, para delírio da militância, que aplaudiu de pé.

A festa de ontem marcou o retorno do ex-presidente após uma longa ausência em aparições públicas provocada pela deflagração da Operação Porto Seguro e pelo indiciamento de Rosemary Noronha, ex-chefe de gabinete do escritório da Presidência em São Paulo. E Lula voltou afiado. Sobrou para os principais caciques do PSDB. Na véspera, em seu site pessoal, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso postou um vídeo declarando que o PT não tinha crescido, que “ficava de picuinha”, olhando para o passado. “Descobri que passar oito anos dizendo ‘nunca na história desse país’ perturbou eles. Nós queremos comparar. Nós não temos medo de comparação, inclusive comparação no debate sobre corrupção”, afirmou Lula.

Naquele momento, o ex-presidente foi aplaudido de pé pela plateia — estimada em mil pessoas —, que tinha três réus condenados no mensalão em suas fileiras (leia matéria na página 3). Lula afirmou que o governo do PT criou a Controladoria-Geral da União (CGU) para dar mais transparência ao país, algo para o qual os tucanos nunca deram importância. E lembrou, de maneira indireta, o escândalo do mensalão em 2005. “Eles achavam que eu nunca mais teria condições de me candidatar, que o PT estava acabado, que ficaríamos sangrando. Eis que voltou o Lulinha paz e amor com mais força ainda”, declarou.

Remetendo ao discurso de Aécio — com quem sempre teve uma boa relação pessoal, sobretudo nas vezes em que os candidatos do PSDB eram os paulistas José Serra e Geraldo Alckmin —, Lula comentou as palavras do senador mineiro na tarde de ontem, que enumerou os 13 erros do PT ao longo dos últimos 10 anos, em uma alusão ao número do partido de Lula e Dilma. “É uma coisa muito interessante, porque vai permitir que os nossos senadores sigam para debater com eles. Acho que o Aécio vai proporcionar a vocês o direito a ser senador”, ironizou o ex-presidente.

Lula disse que as palavras de Aécio e FHC são sintomas do desespero do PSDB. “Eles estão inquietos porque perceberam que estão sem valores, sem discurso, sem proposta. Tudo que eles pensaram em fazer, nós fizemos mais e melhor”, comparou. “Por isso que nós queremos abrir esse debate, com eles, com a opinião pública, com a imprensa. Se tem uma coisa que não temos medo é do debate”, bradou o ex-presidente.

Realizações Reforçando a característica de que cabe a Lula fazer o discurso político e à presidente, o técnico, Dilma desfilou as realizações e os números de seu mandato. Deu especial atenção à questão econômica, ponto central das críticas de tucanos e do PSB, que ameaça apresentar a candidatura de Eduardo Campos ao Planalto no ano que vem.

A exemplo do pronunciamento feito para apresentar a redução da conta de luz, Dilma afirmou que as críticas ao baixo crescimento econômico brasileiro são tendenciosas. “Nosso governo está cada vez mais sólido. Enfrentamos com competência uma das maiores crises da história e estamos preparados para o futuro. A estabilidade é um dos nossos compromissos inabaláveis”, assegurou. “Ninguém duvide da nossa capacidade para manter a estabilidade macroeconômica do país. Os que duvidarem amargarão sérios prejuízos políticos e econômicos”, profetizou a presidente.

Dilma afirmou que o Brasil provou ao mundo que os pilares econômicos e sociais não são incompatíveis entre si. “Provamos isso nessa década contra décadas e décadas onde havia o preconceito. Nós acreditamos que eles são complementares. Nosso crescimento está acompanhado da inflação sob controle, juros baixos, aumento dos empregos e salários e, principalmente, distribuição de renda e diminuição da desigualdade”, enumerou.

A presidente lembrou as medidas de desoneração tomadas nos últimos dois anos para garantir a proteção ao país diante do cenário de crise internacional. E o pacote de concessões para a iniciativa privada ajudar na retomada do crescimento e no destravamento das obras de infraestrutura. “Estamos implementando uma política contra a crise sem perder o desenvolvimento sustentável”, em uma clara resposta às críticas feitas pelos integrantes do novo partido de Marina Silva, a Rede Sustentabilidade. “Em 2013, essas medidas e resultados vão se ampliar ainda mais”, prometeu.

Dilma também citou outro embate travado diretamente com os tucanos: a redução das contas de energia para consumidores residenciais e industriais. “Algumas pessoas questionavam a capacidade de suprimento energético do Brasil e a capacidade do governo de reduzir a conta da energia das pessoas e das empresas”, atacou a presidente. “O atraso normal das chuvas com o acionamento correto das usinas térmicas foi pretexto para criarem um clima nocivo sobre riscos de racionamentos imaginários. Ou eles não conheciam a realidade brasileira, como é possível, ou não conheciam esse governo, como também é possível”, acrescentou. “Nós não herdamos nada. Nós construímos”, concluiu.

“Nós vamos dar como resposta a reeleição da Dilma em 2014. É essa a consagração da política do PT” Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República

“Estamos implementando uma política contra a crise sem perder o desenvolvimento sustentável” Dilma Rousseff, presidente da República

Sandália Durante o encontro com o primeiro-ministro da Rússia, Dmitri Medvedev (leia mais na página 14), e na comemoração petista em São Paulo, a presidente Dilma Rousseff apareceu usando uma sandália no pé direito. Ela sofreu uma fissura no dedão ao tropeçar na escada da Base Naval de Aratu, na Bahia, onde passou o carnaval, e precisou imobilizar o pé com uma bota ortopédica.