O Estado de São Paulo, n.46278, 01/07/2020. Metrópole, p.A10

 

Mortes quadruplicam no Centro-Oeste

José Maria Tomazela

01/07/2020

 

 

Para resguardar leitos, Goiás decide adotar lockdown (bloqueio total) intermitente; MT e MS orientam prefeituras a endurecer regras

Movimentação em Goiânia. Estudo de universidade federal indica que podem faltar leitos na primeira quinzena deste mês

As mortes pelo novo coronavírus mais do que quadruplicaram em um mês na Região Centro-Oeste e o número de casos aumentou cinco vezes e meia. De 29 de maio até esta segunda-feira, os óbitos foram de 363 para 1.618 na região e o total de casos positivos, de 15.550 para 85.103. Os dados incluem o Distrito Federal. O avanço maior aconteceu em Mato Grosso, onde o número de mortes passou de 56 para 536 e o de casos, de 2.103 para 14.687. Em Goiás, os óbitos foram de 119 para 435 e o governador Ronaldo Caiado (DEM) anunciou em videoconferência um lockdown (isolamento completo) intermitente.

O lockdown em Goiás será de 14 dias de paralisação total nas atividades econômicas e outros 14 de reabertura. A medida entrou em vigor ontem, mas depende da adesão dos prefeitos. O Estado registrou 20 mortes nas últimas 24 horas. "Há falta de medicamentos para sedar os pacientes, por isso cancelamos todas as cirurgias eletivas no Estado de Goiás", disse Caiado.

O fechamento intermitente foi decidido após estudo da Universidade Federal de Goiás (UFG) apontar que o número de pessoas infectadas pelo vírus triplicou em 20 dias, saindo de uma taxa de 0,7%, em 30 de maio, para um índice de 2,1% em 20 de junho. De acordo com o pesquisador Thiago Rangel, do Instituto de Ciências Biológicas, a continuar essa evolução, a cidade chegará ao fim de julho precisando de 2 mil leitos de UTI, ante os atuais 437. "A demanda vai duplicar em 15 dias e pode haver colapso ainda na primeira quinzena de julho."

O estudo considerou que, diante da inviabilidade de fechar tudo até setembro, o fechamento alternado a cada 14 dias pode causar uma redução de 61,5% nos óbitos até setembro, equivalente a poupar 10.500 vidas. O secretário estadual da Saúde, Ismael Alexandrino, reconheceu que a situação é grave. "Temos uma média de ocupação de leitos de 86,6%, que é considerada crítica. O problema é que o número de internações está superando o de altas e nosso estoque de medicamentos dá para apenas seis dias."

MT e MS. Em Mato Grosso, após confirmar 534 novos casos em 24 horas, a taxa de ocupação de leitos de UTI atingiu 94,1% anteontem, com 224 pessoas internadas com coronavírus. "As equipes de regulação encontram grande dificuldade para a transferência dos pacientes aos leitos de terapia intensiva, pois as unidades referenciadas já chegaram à lotação, contando apenas com leitos de retaguarda", informou a secretaria da Saúde. No domingo, um jovem de 23 anos, diagnosticado com a covid-19, morreu em casa, no bairro Bosque da Saúde em Cuiabá, à espera de ambulância para ser encaminhado à UTI.

O governo estadual emitiu orientação às prefeituras para adotar medidas mais severas de distanciamento social, com base em boletins de classificação de risco emitidos duas vezes por semana pela pasta estadual da saúde. "O aumento nos casos é decorrência do baixíssimo isolamento social", informou em nota.

Já em Mato Grosso do Sul, foram registrados 49 casos e três óbitos nas últimas 24 horas. O número de mortes era de 18 há um mês e passou para 75. Já o de casos aumentou de 1.356 para 7.676. E são 171 pessoas internadas. Na segunda-feira, o governo estadual lançou um programa de segurança para orientar os municípios a endurecer as medidas de isolamento. As cidades com mais casos, proporcionalmente à população, têm de fechar as atividades comerciais. Em Rochedo, no interior, um frigorífico deu 15 dias de férias a todos os funcionários e fechou para desinfecção.

Mil casos por dia

"Estamos extrapolando mil casos novos por dia, com a capacidade de leitos próxima do limite e com falta de equipes médicas."

Ronaldo Caiado

GOVERNADOR