O Estado de São Paulo, n.46279, 02/07/2020. Política, p.A5

 

Vice da PGR critica modelo de forças-tarefa: 'É desagregador'

Breno Pires

02/07/2020

 

 

Humberto Jaques determina a devolução de procuradores com dedicação exclusiva a seus postos de origem

Em conflito com integrantes da Lava Jato de Curitiba, a Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmou que o modelo de forças-tarefa – base da operação de combate à corrupção – "está esgotado, é desagregador e incompatível com a instituição". A manifestação foi assinada pelo vice-procurador-geral, Humberto Jacques, anteontem, ao rejeitar manter dois procuradores dedicados exclusivamente na equipe da Operação Greenfield, que apura desvios em fundos de pensão.

Responsável pelo ressarcimento de mais de R$ 11,6 milhões aos cofres públicos, a Greenfield já teve cinco procuradores com dedicação exclusiva. Agora terá apenas o titular do caso, Anselmo Lopes, e apoio de outros procuradores com acúmulo de funções. O Estadão apurou que menos da metade (41,4%) do planejamento feito pela operação foi cumprido e faltam ainda 109 metas. Em reservado, procuradores lamentaram a redução da equipe com dedicação exclusiva. Três integrantes da Lava Jato de São Paulo e um de Curitiba também não poderão mais trabalhar só na operação.

A decisão da PGR de não renovar os "empréstimos" é mais um capítulo do atrito entre a Lava Jato e a cúpula do Ministério Público Federal. Na semana passada, a subprocuradora-geral Lindora Araújo, coordenadora dos processos que envolvem a operação no Supremo Tribunal Federal (STF), esteve na unidade em Curitiba em busca de dados da operação, mas os procuradores negaram e fizeram uma representação na Corregedoria do MPF, que abriu uma sindicância para apurar supostas irregularidades.

Em nota, a PGR afirmou que continuará em busca dos dados sigilosos da Lava Jato, e citou decisões dos ex-juízes do caso, Sérgio Moro e Gabriela Hardt, que autorizam o compartilhamento.

A força-tarefa, por sua vez, disse, em nota, que as decisões de Moro e Gabriela não autorizam "acesso indiscriminado" a dados sigilosos da operação. "Jamais qualquer órgão público buscou compartilhamento ou acesso indiscriminado, sem indicar o objeto ou a razão de fato, isto é, os fatos ou procedimentos que embasam a solicitação." Os procuradores afirmam que todos os pedidos da PGR foram 'prontamente atendidos' quando indicavam 'objeto ou propósito específico'.