Título: Uso de álcool provoca 21% dos acidentes
Autor: Chaib. Julia
Fonte: Correio Braziliense, 20/02/2013, Brasil, p. 7
Pesquisa do Ministério da Saúde revela que uma em cada cinco vítimas de colisão ingeriu bebida. Em 2011, a pasta gastou R$ 200 milhões com pacientes envolvidos em batidas. A faixa etária mais afetada é a de 20 a 39 anos
O consumo de álcool está relacionado a 21% dos atendimentos no Sistema Único de Saúde (SUS) de pessoas envolvidas em acidentes de trânsito. Uma em cada cinco vítimas, em 2011, admitiram ter bebido. Os dados foram divulgados ontem pelo Ministério da Saúde. O estudo considerou cerca de 47 mil atendimentos em 71 serviços de urgência e emergência espalhados pelas capitais brasileiras, durante o mês de setembro de 2011. O levantamento constatou também que 49% dos registros de agressão ocorreram com pessoas que tinham ingerido álcool.
Nas duas situações, as principais vítimas são homens entre 20 e 39 anos. No caso dos acidentes de transportes, 39,3% estavam na faixa etária e, nas agressões, 56%. O secretário de Vigilância em Saúde da pasta, Jarbas Barbosa, diz que os acidentes com causas externas — em que se enquadram vítimas do trânsito e violência — são desafiantes para qualquer país, mas o uso do álcool nessas situações influenciam na gravidade do quadro de saúde. “O problema maior é que normalmente existe a necessidade de internar”, diz o secretário.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ressaltou o fato de a maioria das mortes em função de acidentes ocorrer principalmente com jovens. “Além de todo o sofrimento, perdemos pessoas em idade ativa. Outro ponto a ser levado em conta é que 45% das vítimas tem entre 9 e 11 anos de escolaridade. Ou seja, perdemos pessoas com grau de instrução elevado.” Para o ministro, a relação entre álcool e acidente é direta e tem alto custo social e financeiro para o país. Em 2011, o Brasil gastou R$ 200 milhões com atendimentos de colisões no trânsito.
Apesar dos dados, o secretário-executivo do Ministério das Cidades, Alexandre Cordeiro Macedo, destaca uma mudança significativa no comportamento dos condutores após a implementação da lei seca. “Há três pilares muito importantes na segurança no trânsito: a conscientização, uma legislação efetiva e fiscalização eficiente”, afirma Macedo. O estudo mostrou que, nos casos analisados, 56,8% dos acidentados atendidos eram motociclistas — a pasta afirma que este ano será lançada uma campanha voltada para este público.
Pedestres O perfil das vítimas dos acidentes de transportes também é um fator importante. Dos 21% das vítimas que admitiram a ingestão de álcool, 22,3% eram condutores. Chegando perto da quantidade de motoristas, 21,4% eram pedestres. Mesmo longe do volante, eles acabam sendo vítimas de atropelamento quando estão alcoolizados, pois perdem a capacidade de percepção e se expõem a riscos.
Os passageiros também acabam se tornando vítimas do álcool: 17,7% dos acidentados consumiram bebida. Os dados mostram que o risco da pessoa que pega carona com quem bebe também é muito alto. Pesquisa recente da Faculdade de Medicina e Saúde da Universidade de Brasília (UnB) revela que, no Distrito Federal, um terço dos motoristas admitiram ter dirigido após beber nos últimos três meses. Além disso, 82,1% pegaram carona com alguém embriagado.
Violência Em relação aos casos de agressão, a maioria delas ocorre com objetos perfurocortantes: 60,9%. O ministro da Saúde, destacou que, no Distrito Federal, do total das vítimas de violência, 58,3% haviam consumido álcool. “É a maior proporção do país”, diz. Padilha ressaltou também que a ingestão de bebida alcoólica não está ligada só ao agressor. “Existem sinais de embriaguez também nas vítimas. Ocorre uma briga estimulada ou acirrada pelo consumo do álcool.”
Novas formas Desde o último dia 20 de dezembro, a lei seca se tornou ainda mais rígida. Sancionada pela presidente Dilma Rousseff, a nova legislação prevê a utilização de outros meios além do bafômetro para comprovar que o condutor esteja alcoolizado, como exame clínico, perícia, vídeo e prova testemunhal. Fora isso, o valor da multa aumentou de R$ 957,70 para R$ 1.915,40. Se reincidir, o motorista paga o dobro.
“Além de todo o sofrimento, perdemos pessoas em idade ativa” Alexandre Padilha, ministro da Saúde