Título: BC ameaça com alta dos juros
Autor: Pinto, Paulo Silva
Fonte: Correio Braziliense, 20/02/2013, Economia, p. 10

Na tentativa de retomar o controle da inflação, presidente da autoridade monetária avisa que taxa Selic pode subir, ainda que em um ritmo menor do que no passado. Analistas apostam em aumento a partir de abril

O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, seguiu ontem o roteiro fechado com a presidente Dilma Rousseff e indicou, durante evento na sede da instituição, que as taxas de juros poderão subir para conter a disparada da inflação. O discurso, mais incisivo que o normal, foi a forma que o governo encontrou para tentar dissipar as suspeitas dos investidores de que a autoridade monetária está de mãos atadas para elevar a taxa básica (Selic), pois o Palácio do Planalto não quer perder a sua principal bandeira eleitoral: a de que, na atual administração, o Brasil passou a ostentar os menores juros na história. O Comitê de Política Monetária (Copom) vai se reunir em março, mas as apostas são de que a subida da Selic, se vier, só será concretizada a partir de abril, caso o custo de vida, que acumula alta de 6,15% nos 12 meses terminados em janeiro, não ceda rapidamente.

No discurso de 10 minutos, Tombini elencou avanços econômicos dos últimos anos no país, garantiu que não há descontrole inflacionário e frisou que, caso o BC seja obrigado a aumentar os juros, a correção da Selic será pequena — auxiliares de Dilma falam em alta de, no máximo, um ponto percentual, para 8,25%. Ele mencionou ainda a consolidação da estabilidade macroeconômica, com o cumprimento da meta de inflação por nove anos consecutivos. "Queria deixar bem claro que não existe hoje no país risco de descontrole da inflação, não obstante o fato de o Brasil ter conseguido alcançar um novo patamar para as taxas de juros", afirmou. "O Banco Central tem comunicado a sua estratégia, que permanece válida neste momento. Por outro lado, isso evidentemente não significa que os ciclos monetários foram abolidos", emendou.

Gastança Tombini foi além: "Quando necessário, se ensejado pelo cenário prospectivo para a inflação, a postura do Banco Central em relação à política monetária será adequadamente ajustada. Dito de outra forma, neste novo ambiente macroeconômico, a taxa Selic oscilará em patamares mais baixos do que no passado". Ao mesmo tempo em que tentou reforçar a autonomia do BC, o presidente da instituição jogou no colo do ministro da Fazenda, Guido Mantega, parte da responsabilidade pelo controle da inflação, ao destacar que o cumprimento das metas fiscais é vital para o processo de corte de juros.

"A geração de superavits primários consistentes e a manutenção da tendência decrescente na relação entre a dívida pública e PIB (Produto Interno Bruto) favoreceram o processo de redução das taxas de juros domésticas", destacou Tombini. Nos últimos anos, a Fazenda tem recorrido a uma série de artifícios para fechar as contas e maquiar a gastança que pressiona os preços, comportamento que provocou uma chuva de críticas e de desconfiança em relação à política econômica.

Na avaliação do economista Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do BC, apesar do alerta de Tombini — repetindo o que disse Mantega na semana passada, em Moscou — são pequenas as chances de aumento de juros na próxima reunião do Copom. "Tombini não me pareceu suficientemente enfático. Ficarei agradavelmente surpreso se a Selic for elevada", afirmou.