Correio braziliense, n. 20941, 23/09/2020. Política, p. 4

 

Oposição: discurso é mentiroso

Alessandra Azevedo 

Luiz Calcagno 

23/09/2020

 

 

Bolsonaro pode ter sido bem sucedido para apoiadores ao discursar na Organização das Nações Unidas (ONU). Porém, foi visto com reservas no Congresso, onde o governo trabalha para negociar vetos e projetos de lei e vem se esforçando para criar um corpo de líderes mais pragmáticos e eficazes que a tropa de choque ideológica do presidente. Deputados e senadores de diferentes partidos demonstraram incredulidade com a narrativa construída pelo mandatário em um plenário acompanhado por chefes de estado de todo o mundo.

Os questionamentos incluem a veracidade de parte das informações citadas pelo presidente sobre os incêndios florestais na Amazônia e no Pantanal. Para governistas, ao citar o problema, Bolsonaro sinalizou preocupação com o meio ambiente, mas também com a soberania do país. No Twitter, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), considerou “impecável” o discurso, que assistiu ao lado do presidente. A fala esclareceu “posições de governo com ênfase no meio ambiente”, escreveu. Já a oposição criticou na íntegra o pronunciamento.

Única indígena entre os parlamentares, a deputada Joenia Wapichana (Rede-RR) fez questão de mostrar “total indignação” e “repudiar da forma mais veemente possível o discurso vergonhoso do presidente”. “Bolsonaro demonstrou uma postura irresponsável e ao mesmo tempo leviana ao culpar os povos indígenas pelos incêndios na Amazônia e no Pantanal. Isso prova que há um presidente despreparado, que há uma incompetência e uma ausência na política ambiental e indigenista para o Brasil”, concluiu.

Os deputados também apontaram inconsistências no valor que Bolsonaro disse ter pago como auxílio emergencial. O “show de mentiras”, nas palavras do líder do PSB na Câmara, Alessandro Molon (RJ), inclui dizer que as três parcelas do benefício mensal de R$ 600 somaram US$ 1 mil. “Ou o presidente não sabe o que ele pagou, ou ele não sabe fazer conta, ou ele não sabe o valor do dólar. Ainda escondeu do mundo que quer baixar pela metade o valor da parcela”, disse em plenário.

No Senado

O senador Lasier Martins (Podemos-RS) afirmou que o discurso de Bolsonaro foi “equivocado”. “Uma pena que ele não esteja sendo fiel à realidade que vivemos na Amazônia. Foi irreal. Ele está sendo muito criticado (no Senado)”, lamentou. Ex-aliado de Bolsonaro, o senador Major Olímpio (PSL-SP) destacou que o presidente fez o Brasil parecer ridículo aos olhos de outras nações. O parlamentar lembrou que elevar o valor do auxílio emergencial para US$ 1 mil foi incompetência ou má intenção, já que se trata de um valor verificável.

“É uma gozação descarada. O discurso em relação às queimadas, culpando índios e caboclos também não se mostra verdade. Dizer que o incêndio no Pantanal é só pelas altas temperaturas? E o desmonte da fiscalização, aplicação de penalidade, que virou um facilitador para criminosos? A forma que o presidente se manifestou sobre como governo encarou a covid aqui, ele fez o mesmo discurso falacioso que só não atuou mais por decisão do Supremo, o que também não é verdade. Vejo com tristeza. Ele tinha que ter uma assessoria mais efetiva, um texto mais condizente, evitar essas coisas tão escrachadas. É decepcionante”, disse.