Valor econômico, v. 21, n. 5091, 22/09/2020. Política, p. A7

 

Comissão do Senado aprova diplomatas e convida chanceler

Vandson Lima

Renan Truffi

22/09/2020

 

 

Senadores se irritaram com visita de Mike Pompeo a Roraima

Na semana que marca o retorno parcial dos trabalhos presenciais no Senado, a Comissão de Relações Exteriores (CRE) aprovou um convite para que o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, explique a visita do secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, na sexta-feira, às instalações da Operação Acolhida, em Roraima, na fronteira entre o Brasil e a Venezuela.

A audiência acontecerá na quinta-feira. Para alguns senadores, Ernesto Araújo afrontou a Constituição Federal ao ceder “o território para um agente dos EUA ameaçar um país amigo”, em referência à Venezuela. Isso porque, durante a visita, Pompeo afirmou que os EUA vão retirar Maduro do cargo. “Nossa missão é garantir que a Venezuela tenha uma democracia. Nós vamos tirá-lo [Maduro] de lá”, disse. O presidente venezuelano é um dos principais focos de ataque da campanha do republicano, que defende sanções contra o regime. Trump concorre à reeleição e está em disputa com o democrata Joe Biden.

Como retaliação, senadores do centro e da oposição chegaram a cogitar o adiamento das sabatinas com 32 embaixadores indicados pelo governo brasileiro, que aconteceram ontem Casa legislativa. Foram dissuadidos, contudo, pelo presidente da CRE no Senado, Nelsinho Trad (PSD-MS), que é aliado de Bolsonaro.

Os indicados para chefiar embaixadas e escritórios brasileiros em 43 países e em dois organismos internacionais foram todos aprovados no colegiado. Serão ainda esta semana submetidos ao aval do plenário do Senado, por votação secreta - motivo que obriga as deliberações a ocorrerem de forma presencial.

A visita de Pompeo provocou a reação de políticos brasileiros já na sexta-feira. A primeira foi do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que afirmou que se tratava de uma “afronta às tradições de autonomia e altivez” da política externa brasileira. Maia também lembrou que os EUA estão em período eleitoral, com Trump buscando a recondução. O presidente da Câmara disse que o episódio não condiz com “a boa prática diplomática internacional”.

Em seguida, seis ex-ministros das Relações Exteriores emitiram nota em apoio a Maia - o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que comandou o Itamaraty no governo Itamar Franco, além de Francisco Rezek, Celso Lafer, Celso Amorim, José Serra e Aloysio Nunes Ferreira. O ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero também subscreve a nota, assim como Hussein Kalout, ex-secretário de Assuntos Estratégicos no governo de Michel Temer.

“Na hora do pico da crise migratória, os EUA não ajudaram. Agora que resolvemos, chega o “seu” Pompeo e oferece uma migalha de US$ 30 milhões. E de lá detona, dizendo que vai derrubar Maduro. O Brasil não é colônia dos Estados Unidos. Isso fere a nossa soberania”, criticou Telmário Mota (Pros-RR) autor do pedido para esclarecimentos do chanceler. Mecias de Jesus (Republicanos-RR) foi na mesma linha. “Eles querem um palanque. O povo de Roraima não concorda com Pompeo”.

Também representante de Roraima, o vice-líder do governo Chico Rodrigues (DEM) procurou esfriar os ânimos. “Em nenhum momento, teve o apoio do governo brasileiro. Não pode se transformar [o episódio] em um grande conflito diplomático”.