O globo, n. 31796, 26/08/2020. País, p. 14

 

Presidente define “favoritos” em cidades estratégicas

Paulo Capelli

26/08/2020

 

 

Em planejamento para eleição municipal, Bolsonaro fará campanha no 2º turno contra aliados de possíveis rivais em 2022

Como parte do planejamento em busca da reeleição, o presidente Jair Bolsonaro vai apoiar, este ano, candidatos a prefeito de cidades consideradas estratégicas pelo grande número de eleitores e pelas forças políticas nelas presentes. No primeiro turno, e até mesmo antes dele, o apoio será por meio de sinalizações: elogios, aparições públicas e citações nas redes sociais. No segundo turno, dependendo do adversário que seus favoritos venham a enfrentar, Bolsonaro avalia gravar vídeos com declaração de apoio explícito.

Nas três capitais com o maior eleitorado, São Paulo, Rio e Belo Horizonte, o presidente já definiu seus escolhidos: Márcio França (PSB), Marcelo Crivella (Republicanos) e Bruno Engler (PRTB), respectivamente. Os apoios levam em conta não só o quesito afinidade, masa possibilidade evitara ascensão de opositores que, eleitos, fariam campanha para adversários na corrida presidencial em 2022.

O apoio comedido no primeiro turno, restrito apenas a sinalizações, tem explicação. Ao pedir voto apenas na segunda fase do pleito, Bolsonaro reduz as chances de apoiar explicitamente um candidato que venha a ser derrotado. E também evita atrito com sua base no Congresso, uma vez que partidos de direita e de centro lançarão diferentes candidaturas majoritárias no primeiro turno da eleição.

Um aliado próximo do presidente explica que no segundo turno é provável que a diferença seja mais clara entre adversários e aliados do presidente, o que justificaria seu envolvimento.

Vice-líder do governo na Câmara, o deputado federal bolsonarista Carlos Jordy (PSL-RJ) acredita que o empenho de Bolsonaro será maior nos municípios que terão candidaturas de políticos tidos como persona non grata.

—Muita gentes e elegeu surfando na onda Bolsonaro e depois mu doudela do. Nos município sonde haja esses traidores, tende a haver uma maior participação da família Bolson aro—disse, citando ocaso de São Paulo, onde o governador João Do ria( PSD B) e ade putada federal Joice hoje desafetos do presidente, vincularam-se a Bolsonaro na campanha.

Enquanto Doria apoia a reeleição do prefeito Bruno Covas, dese u partido, Joice é précan didata pelo PS L, ex-legendado presidente.

O caso de São Paulo ilustra como Bolsonaro pretende aplicara máxima“o inimigo do meu inimigo é meu amigo”. Filiado ao PSB, mas sem ter um histórico na política ligado ao campo da esquerda, o exgovernador Márcio França é um crítico contumaz de Doria, para quem perdeu a eleição ao governo no segundo turno de 2018. A relação amistosa com o presidente custou críticas a França dentro da sua coligação —ele tem o apoio do PDT de Ciro Gomes na disputa na capital paulista.

Já no Rio, o apoio será ao prefeito Marcelo Crivella, que busca a reeleição. Bolsonaro tem participado de agendas com Crivella nos últimos meses e autorizou seus filhos, o senador Flávio e o vereador Carlos, ase filiarem ao partido do prefeito, além de sua ex-mulher Rogéria Bolsonaro, que também tentará uma vaga na Câmara Municipal. Além das sinalizações ao prefeito, o presidente lhe dará apoio explícito caso o adversário, no segundo turno, seja o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM). Bolsonaro avalia que a vitória de Paes, que integra o partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), fortaleceria Doria na eleição de 2022.

No Estado do Rio, Bolsonaro ainda pretende participar do segundo turno em cidades com eleitorado expressivo, como São Gonçalo e Nova Iguaçu. Ele vai aguardar a definição dos candidatos.

Em Belo Horizonte, o favorito de Bolsonaro é o deputado estadual Bruno Engler, do PRTB, partido do vice-presidente Hamilton Mourão. No último sábado, Engler, que é considerado representante da ala ideológica, postou foto no Alvorada ao lado de Bolsonaro e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

“Tem uma pessoa que eu gosto muito em Minas Gerais que talvez venha candidato em BH”, disse Bolsonaro, em uma no mês passado.

FLÁVIO COM COVID-19

O senador Flávio Bolsonaro testou positivo para Covid-19, e passou a ser o sexto integrante da família presidencial a contrair o coronavírus. O exame foi feito na última segunda-feira, e Flávio está assintomático e em isolamento domiciliar. A informação foi antecipada pela colunista do Extra Berenice Seara.

Além do presidente, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, o filho J air Renan e a nora Heloísa Bolsonaro tiveram a doença. A avó de Michelle, Maria Aparecida Firmo Ferreira, de 80 anos, morreu por complicações da Covid.