O globo, n. 31797, 27/08/2020. País, p. 14

 

Wassef pagou advogado que defendeu Bolsonaro

Aguirre Talento

Juliana Dal Piva

27/08/2020

 

 

Segundo relatório do Coaf, Arnaldo Busato Filho recebeu R$ 276 mil. Ele representou o presidente no STF, diz que não cobrou honorários e que valores são referentes a outra causa defendida em conjunto com o colega

 O advogado Frederick Wassef fez pagamentos que totalizaram R$ 276 mil a um advogado que defendeu o presidente Jair Bolsonaro em duas ações penais no Supremo Tribunal Federal (STF) por apologia ao estupro e injúria, movidas com base em declarações feitas por ele contra a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS). Os dados constam do relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) sobre as movimentações suspeitas de Wassef, enviado para órgãos de investigação.

Segundo documentos dos processos,Arnaldo Faivro Busato Filho entrou na defesa de Bolsonaro perante o STF em junho de 2017. O relatório do Coaf registra esse repasse no intervalo entre 2015 e 2020, mas não especifica quando ocorreram os pagamentos. Procurado, Busato afirmou que não cobrou honorários para defender Bolsonaro e disse que os pagamentos recebidos de Wassef eram referentes a um inquérito no qual eles atuavam em parceria, em tramitação no Maranhão.

Os repasses de R$ 276 mil destinados a Busato saíram da conta do escritório de Wassef & Sonnenburg Sociedade de Advogados. Além disso, houve uma transferência de R$ 15 mil da conta pessoal de Wassef para Busato no mesmo período de cinco anos. Segundo Busato, Wassef lhe repassou parcelas referentes aos seus honorários, sem relação com a atuação para Bolsonaro no STF.

AÇÕES SUSPENSAS

As duas ações penais foram movidas depois que o deputado disse na Câmara e numa entrevista que Maria do Rosário não merecia ser estuprada “por ser muito feia”. Caso condenado, ele poderia ter sido impedido de disputar as eleições. As ações não foram julgadas ainda e, em fevereiro do ano passado, foram suspensas pelo STF após Bolsonaro assumir o cargo de presidente, que tem imunidade em relação a crimes anteriores ao mandato.

O Palácio do Planalto não quis comentar o caso. O GLOBO entrevistou Wassef sobre reportagem publicada ontem que mostra pagamentos do advogado ao médico que atendeu Fabrício Queiroz num hospital em São Paulo e revela depósitos em sua conta feitos por Bruna Boner, sócia da Globalweb, empresa que tem contratos com o governo (leia abaixo). A reportagem não conseguiu novo contato com Wassef para falar dos pagamentos a Busato.

Próximo da família Bolsonaro ao menos desde 2014, Wassef entrou na mira do Coaf após a Operação Anjo do Ministério Público do Rio, que prendeu Queiroz em uma casa pertencente ao advogado em Atibaia (SP). Wassef defendia o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na investigação do esquema de “rachadinha” e também se apresentava como advogado de Jair Bolsonaro.

JUSTIÇA SUSPENDE MULTA

Em junho, o GLOBO mostrou que um consórcio integrado pela Globalweb havia sido multado pela Dataprev, empresa ligada ao Ministério da Economia, em R$ 27 milhões, por não ter entregue os serviços contratados. A multa foi aplicada pela Dataprev durante o governo do ex-presidente Michel Temer,

mas foi suspensa em março de 2019, já na gestão Bolsonaro. Agora, o Tribunal Regional da 1ª Região (TRF-1) deferiu uma liminar pedida pelo consórcio da Globalweb confirmando a suspensão da multa.

Depois da suspensão definida pelo governo, o juiz federal Ilan Presser, do Tribunal Regional da 1ª Região (TRF-1), atendeu a um pedido feito pelo Consórcio MG2I, do qual a Globalweb é membro, e concedeu uma liminar para que a cobrança da multa não seja efetivada enquanto não houver análise do mérito da causa pela 5ª Turma do TRF-1. A decisão foi publicada ontem em Diário Oficial.