O globo, n. 31797, 27/08/2020. País, p. 16

 

Bolsonaro diz que só discute retorno ao PSL em 2021

Natália Portinari

Guilherme Caetano

27/08/2020

 

 

Em reunião com deputados aliados, presidente fala em aguardar disputa pelo comando da Câmara. 'Bivaristas' resistem à ideia

 Em reunião com deputados do PSL, ontem, o presidente Jair Bolsonaro disse que só discutirá o eventual retorno ao partido após a eleição à presidência da Câmara dos Deputados, no início do ano que vem. Bolsonaro, que convocou os parlamentares para debater o assunto, vem se reaproximando do partido nos últimos meses. Um dos tópicos da conversa foi a estratégia de reconciliação com o presidente da legenda, o deputado Luciano Bivar (PE).

Bivar e Bolsonaro se desentenderam no segundo semestre do ano passado, dividindo ao meio a bancada de 55 deputados do PSL na Câmara. Bivar chegou a dizer recentemente que o eventual retorno de Bolsonaro passaria pela vontade da bancada, e que a reaproximação envolve a possibilidade de retirada da suspensão partidária imposta a 14 deputados bolsonaristas.

DISPUTA EM SÃO PAULO

Na articulação interna entre os grupos rompidos, Bivar incumbiu o deputado federal Felício Laterça (RJ) de ouvir os bolsonaristas. Laterça foi escolhido por ter se indisposto menos com nomes próximos a Bolsonaro, como Carla Zambelli, Luiz Philippe de  Orleans e Bragança, Bia Kicis e Daniel Silveira. Já os líderes da chamada “ala bivarista”, como Júnior Bozzella, Joice Hasselmann e o senador Major Olimpio, estão insatisfeitos com a reaproximação. Eles foram os mais atacados pela militância bolsonarista após o racha em 2019.

— Minha missão é entender o sentimento geral e aplacar os ânimos. Amanhã, se a gente entender que é benéfico termos de novo do presidente conosco, tudo bem. Mas uma coisa é ter o presidente de volta. Outra coisa é ter os deputados bolsonaristas —diz Laterça.

A principal solicitação do grupo de Bolsonaro é que o PSL derrube a suspensão dos deputados alinhados ao presidente. A ala bolsonarista acredita também que Bivar possa interferir na eleição à prefeitura de São Paulo, substituindo a précandidatura de Joice Hasselmann por um nome mais simpático a Bolsonaro.

O deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (SP), o mais cotado pelos bolsonaristas para a vaga de Joice, se reuniu recentemente com Bozzella, que é presidente do PSL paulista e aliado da atual pré-candidata, para defender sua candidatura. O PSL ainda não bateu o martelo.

A ala bivarista, no entanto, se mostra descrente de que o “namoro reatado” renda frutos para os deputados que brigaram para sair do partido e ajudar a construir o Aliança pelo Brasil.

Na semana passada, Joice deu indicativos de que o PSL está disposto a ter apoio de Bolsonaro sem precisar mexer na candidatura em andamento. Ela afirmou, em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, ser a melhor candidata para ser apoiada por Bolsonaro.

Ao GLOBO, Joice afirmou que se o presidente quiser “resgatar as bandeiras com as quais foi eleito, será bemvindo”. Mas disse que a reaproximação foi iniciativa exclusiva de Bolsonaro.

— O que não queremos é alguém que venha gerar mais divisão. Sempre defendi as bandeiras lava-jatistas e do governo. Quem desvirtuou isso no meio do caminho foram os bolsonaristas —declarou Joice.

A pré-candidata do PSL também disse que a reaproximação precisa ser “com respeito, e não no tapetão”, referindo-se à tentativa de Orleans e Bragança de emplacar uma nova candidatura.

DE OLHO EM 2022

Questionado se a reaproximação mira a candidatura de Bolsonaro à reeleição em 2022, Laterça afirmou que a ideia é incipiente, mas defende que nenhuma outra sigla se encaixa melhor ao presidente que o PSL.

— Qual partido que não sente a saída do presidente da República? Eu acho possível (Bolsonaro concorrer pelo PSL). Nenhum outro partido na direita tem essa estrutura —afirmou.