O globo, n. 31798, 28/08/2020. Economia, p. 20
Acordo com UE 'começa a fazer água' diz Mourão
Daniel Gullino
28/08/2020
Apesar de assinado em 2019, livre comércio entre Mercosul e bloco europeu precisa ser ratificado pelos países e tem esbarrado na política ambiental brasileira. Vice-presidente defende negociação permanente
O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou ontem que“parece” que o acordo entre Merco sule a União Europeia( UE )“começa a fazer água ”. Mourão não deu detalhou quais seriam as dificuldades, mas disse que há um“ruído” na comunicação e defendeu uma negociação permanente com os países que fazem parte dos dois blocos. A afirmação foi feita durante uma transmissão ao vivo organizada pela Federação das Câmaras de Comércio Exterior.
O acordo entre o Mercosul e o bloco europeu foi assinado em 2019, após 20 anos de negociações. Estabelece livre comércio entre os dois blocos e tem potencial para aumentar os investimentos previstos para o Brasil em US$ 113 bilhões e as exportações em US$ 100 bilhões, num prazo de 15 anos. Mas, para entrar em vigor, precisa ser aprovado pelo Parlamento Europeu e pelos congressos nacionais dos países que integram a União Europeia.
PROBLEMAS COM ARGENTINA
Mourão citou o acordo logo após comentar problemas relacionados à Argentina. Um deles foi a demora do país vizinho para liberar a entrada de importações brasileiras, como mostrou o GLOBO. Ele também falou sobre a crise da dívida e o aumento de casos de coronavírus na Argentina.
— Estamos com um problema nas licenças de exportação. Temos US$ 100 milhões em veículos parados, aguardando a liberação da licença não automática. O prazo deveria ser de dez dias, de acordo com o padrão, e já estamos há dez dias sem ter as licenças renovadas.
Segundo Mourão, essa demora pode atrapalhar o“grandeesforço” feito para assinar o acordo com os europeus.
—Esses problemas se apresentam nesse momento em que o grande esforço que foi feito no ano passado de articulação desse acordo Mercosul-União Europeia parece que começa a fazer água. Então, realmente, nós temos que ter uma equipe em condições de estar negociando permanentemente, não só com nossos parceiros do Mercosul, bem como com a União Europeia.
Vários representantes de países da UE, como Irlanda, França e Holanda, já se pronunciaram contra a ratificação do acordo por causa da falta de preservação do meio ambiente e da Amazônia.
Segundo Mourão, o Brasil tem um “relacionamento muito bom” com a Alemanha, e a imprensa publica coisas que são “totalmente diferente do que está acontecendo na realidade”. Na semana passada, o porta-voz da chanceler alemã, Angela Merkel, disse que o país tem “sérias dúvidas” de que o acordo possa ser aplicado, por causa do desmatamento da Amazônia.
— E inclusive tem ruído nessa comunicação. A imprensa falou que a Angela Merkel teria dito que o acordo estaria sub judice ,masna realidade ela foi cobrada pela ativista ambiental, Greta Thunberg, e resolveu não fazer nenhum comentário.