Correio braziliense, n. 20944, 26/09/2020. Cidades, p. 16

 

Alívio com imunidade de rebanho

Washington Luiz 

26/09/2020

 

 

O governador Ibaneis Rocha (MDB) disse, ontem, que a capital alcançou a imunidade de rebanho. Na avaliação do emedebista, os hospitais públicos e privados têm, agora, capacidade para desmobilizar os leitos disponíveis para pacientes diagnosticados com a doença e retomar os atendimentos que foram suspensos por conta da pandemia.

“Dizem os estudiosos que, para cada caso de covid, você tem outros 10 que não foram detectados. Isso nos coloca, hoje, em torno de mais de um milhão de pessoas que tiveram contato com a doença. Então, nós temos o que se chama imunidade de rebanho, o que não nos deixa numa condição de relaxar nas medidas de proteção, mas que faz com que a rede de saúde passe a sentir muito menos. Tanto nos hospitais privados quanto nos hospitais públicos, hoje nós temos uma quantidade de leitos maior que está sobrando”, disse, após inaugurar obra de irrigação do canal Santos Dumont, em Planaltina.

Dados divulgados pela Secretaria de Saúde de ontem à tarde mostram que a taxa de ocupação dos 643 leitos destinados à covid-19 na rede pública — incluindo adulto, pediátrico e neonatal — é de 57,33%. Destes, 309 estavam ocupados, 230 vagos e 104 bloqueados ou aguardando liberação. Para o governador, esse cenário possibilitaria a volta de cirurgias e consultas.

“Nós temos que atender todos aqueles que ficaram prejudicados. Essa é nossa preocupação agora, por conta da mobilização que foi feita por causa da covid. Temos que começar nos nossos hospitais, em primeiro lugar, em Santa Maria, nas Upas, a atender pessoas que ficaram sem atendimento ao longo desse período da covid e, a partir daí, colocando (os pacientes com covid) para serem atendidos nos hospitais de campanha — enquanto durarem os contratos — e, a partir daí, regularizar toda fila de cirurgias que ficou parada, principalmente as cirurgias eletivas e de pequeno porte”, defendeu Ibaneis.

De acordo com o último boletim do Observatório de predição e acompanhamento da epidemia covid-19, em 14 de setembro, a taxa de replicabilidade do vírus estava em 0,88. Ou seja, 100 pessoas infectadas transmitiam o vírus para outras 88. Segundo Breno Adaid, professor do Centro Universitário Iesb, esse índice permite afirmar que o DF atingiu a imunidade de rebanho.

“A imunidade de rebanho, na literatura, é quando a taxa de replicabilidade se mantém abaixo de 1 de modo consistente. O DF já apresenta, há algum tempo, taxa abaixo de 1, como mostra a descendência de casos desde o final de julho”, explica.

Adaid lembra que as medidas de isolamento precisam ser mantidas para que a taxa de transmissão continue em queda. “O que não se pode entender é que, com a imunidade de rebanho, acabou a pandemia. Quanto mais as pessoas se locomovem, não usam máscara, mais apresentam oportunidade de transmitir o vírus e isso faz com que a queda seja mais lenta”.

Outra preocupação, segundo o pesquisador, é que ainda não há certezas sobre os casos de pessoas reinfectadas pelo coronavírus. “Ainda não há nada definitivo. Existe em aberto a possibilidade de uma reinfecção após um tempo. Temos poucas informações definitivas. Mesmo que a gente estivesse sem casos, teríamos que controlar e estar atentos a essa questão de recontaminação”.

Leitos

A Secretaria de Saúde diz que a desmobilização gradual de leitos exclusivos para a covid-19 está em planejamento e “obedecerá a um cronograma rígido e controlado por técnicos de saúde e estatísticos”. A data, no entanto, ainda está em definição.

Ontem, com menos de 20% de ocupação dos leitos para pacientes de covid-19, o Hospital Santa Lúcia fechou três alas que eram exclusivamente dedicadas a atender a população infectada pelo coronavírus, dando lugar a outras áreas do hospital com maior demanda, como cardiologia, oncologia e geriatria. A unidade continua com 20 leitos de UTI disponíveis, que podem aumentar, caso haja nova onda de casos no Distrito Federal.

Vacina

Em busca de prioridade na compra de vacina contra o coronavírus, o GDF firmou parceria, em julho, com outra farmacêutica chinesa, a Sinopharm, que também tem um projeto de imunizante contra a doença. “O objetivo deste acordo seria a participação dos estudos de fase três da vacina produzida pela empresa e, com isso, garantir prioridade na aquisição de vacinas para o DF, caso sejam aprovadas”, afirmou a pasta, em nota oficial enviada ao Correio.

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Redução de mortes 

Tainá Seixas 

26/09/2020

 

 

O Distrito Federal registrou mais 11 mortes ontem decorrentes de covid-19. Uma delas ocorreu na sexta-feira e as outras 10 entre 11 de julho e 24 de setembro. A maior parte das vítimas tinha outra comorbidade que agravou o quadro clínico (10); seis delas eram mulheres e oito tinham mais de 60 anos. Todas as vítimas eram moradoras da capital.

Com os novos registros, o total de mortes no DF chegou a 3.175, de um universo de 187.895 casos de coronavírus, o que representa uma mortalidade de 1,7%. A maior parte das vítimas residia no DF; 260 eram moradores de outros estados — a maioria era residente no entorno (244). Recuperados da doença contabilizam 177.073 (94,2%).

Ceilândia é a região administrativa com maior número de casos (22.939), seguida por Taguatinga (15.442), Plano Piloto (14.829) e Samambaia (12.188). Ceilândia tem o maior índice de letalidade da doença (2,5). As outras cidades com maior número de casos também têm índices altos: em Taguatinga, a taxa é de 2,1% e; em Samambaia, é de 2%. O Plano Piloto, no entanto, é exceção entre as cidades com mais casos, com taxa significativamente mais baixa: 1,4%.

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Descaso com a máscara 

Thalyta Guerra

26/09/2020

 

 

Apesar dos mais de 180 mil infectados pelo novo coronavírus no Distrito Federal, ainda existem pessoas que se arriscam ao sair de casa sem usar máscaras de proteção facial. Segundo o DF Legal, entre 23 de março e o último dia 20, cerca de 80.344 mil pessoas foram abordadas por não usar máscaras nas vias públicas do DF. Mas, o número de multas é pequeno, 145 pessoas foram atuadas por se recusarem a usar a proteção.

Diariamente, quatro equipes do DF Legal, acompanhadas pelas forças de segurança e demais órgãos de fiscalização, saem às ruas em três turnos, das 8h da manhã às 3h da madrugada, para fiscalizar se as medidas de prevenção estão sendo respeitadas. Vale lembrar que a multa para quem não quer usar a máscara é de R$ 2 mil para pessoas físicas e de R$ 4 mil para pessoas jurídicas que descumprem as regras.

Para o médico infectologista José Davi Urbaéz, não há dúvidas de que o uso da máscara é uma das formas mais eficazes de se proteger do coronavírus. “Quanto menor o número de pessoas que usam máscaras, maior será a circulação do vírus. Esta proteção é um instrumento importante de controle da pandemia, pois não temos um isolamento social fortalecido, depois da liberação das atividades”, explica. “A pessoa que escolhe não usar máscara está atentando contra o direito de vida de outras pessoas. A saúde é um direito coletivo”, completa.

A advogada Regina Oliveira, 53 anos, não dispensa a proteção, principalmente em aglomerações. “Sair de casa, só com máscara e álcool 70% na bolsa. É uma segurança para mim e para as pessoas ao meu redor”, reforça. A cientista social Yasmin Amany, 25, escolheu usar as máscaras que possuem um filtro entre as duas camadas de tecido. “Eu uso daquele algodão bem mais grosso e, quando saio, troco de máscara em, no máximo, duas horas após o uso”, explica. “Sei que a máscara não é uma vacina, mas é uma barreira de proteção que pode salvar vidas. Não tem como a gente viver este momento sem máscaras”, acrescenta.

* Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira