Título: Tentaram me matar. Preciso sair
Autor: Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 22/02/2013, Brasil, p. 7

Bilhete de ex-paciente do Hospital Evangélico pode confirmar a acusação de que a chefe da UTI desligava aparelhos de pessoas internadas. Polícia investiga casos dos últimos sete anos

Todas as pessoas que trabalharam na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba, durante o período em que a médica Virgínia Soares de Souza esteve à frente do núcleo, serão investigadas pela Polícia Civil do Paraná. Ela é acusada de desligar aparelhos e reduzir a medicação de pacientes em estado terminal e será indiciada por homicídio qualificado. Virgínia foi presa na última terça-feira e permanecerá detida por 30 dias, conforme decisão judicial. Ela nega qualquer crime. A delegada Paula Brisola, do Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde (Nucrisa), responsável pelo caso, decretou segredo de Justiça do inquérito. O hospital considerou o episódio pontual.

Apesar de a apuração ser mantida em sigilo por precaução, um bilhete supostamente escrito por uma das pessoas que poderia ter se tornado vítima da médica foi divulgado ontem. A mulher, que ficou 26 dias na UTI, teria ouvido um diálogo de Virgínia sobre o desligamento do aparelho que ela usava e escrito um recado para alertar parentes. “Eu preciso sair daqui, pois tentaram me matar desligando os aparelhos toda a noite.” O delegado-geral da Polícia Civil do Paraná, Marcus Vinicius Michelotto, não quis dar detalhes sobre o caso.

A Polícia Civil do Paraná ouvirá ex-pacientes e funcionários que trabalharam com a médica para verificar a quantidade de casos em que a médica pode estar envolvida — ela está no hospital há 20 anos. A equipe dela está afastada temporariamente. Serão investigadas todas as mortes dos últimos sete anos, tempo em que Virgínia assumiu a chefia da UTI. Segundo depoimentos, a profissional tinha problemas de relacionamento com os enfermeiros, inclusive, tendo sido afastada por 30 dias em 2011. De acordo com as investigações, iniciadas há um ano, falas da médica foram gravadas e em uma delas ela teria dito: “Quero desentulhar a UTI, que está me dando coceira”. A profissional disse ter sido mal interpretada.

De acordo com o Hospital Evangélico, segundo maior da cidade, o caso envolvendo Virgínia é esporádico. “O hospital mantém quatro unidades de terapia intensiva, totalizando 50 leitos do SUS (Sistema Único de Saúde), e cada UTI tem uma estrutura e equipe independentes. O problema levantado é pontual em uma das UTIs, onde a direção já atuou no sentido de promover mudanças na equipe de profissionais visando facilitar as investigações”, comentou a unidade de saúde, por meio de nota.

O estabelecimento acrescentou que a Secretaria de Saúde de Curitiba disponibilizou dois profissionais para acompanhar a rotina das unidades. “O hospital conta com um corpo clínico de mais de 300 profissionais médicos, de alta qualidade e de reconhecida capacitação, e que não devem ser julgados pelo fato ocasional investigado de uma profissional”, destacou. A unidade não informou os procedimentos que tomou em relação à médica.

Denúncias Segundo a delegada titular do Nucrisa, Paula Brisola, a investigação em torno das mortes dos pacientes foi iniciada a partir de denúncias. O caso foi parar na Ouvidoria-Geral do Estado, cujo chefe é Cid Vasques, atual secretário de Segurança Pública. Depois de instaurado o processo, o Ministério Público do Paraná pediu a abertura de inquérito pelo núcleo chefiado por Brisola. Além da investigação policial, foi aberta uma sindicância pela Secretaria de Estado de Saúde, que verificará possíveis irregularidades no Hospital Evangélico.

O caso será acompanhado pela prefeitura Municipal de Curitiba e pelo Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná (CRM-PR), que já determinou a abertura de sindicância para verificar se há indícios de prática antiética. Segundo nota do Conselho Federal de Medicina (CFM), se for confirmado o delito, o CRM-PR proporá a abertura de processo contra a médica e ela pode ter o registro cassado.

Médicos vão recorrer A defesa de três dos quatro médicos acusados de integrarem uma quadrilha especializada em remoção e tráfico de órgãos em Poços de Caldas, no sul de Minas Gerais, entrará com recurso para tentar reverter a decisão da Justiça que condenou os profissionais da saúde entre 8 a 11 anos de prisão. O advogado José Arthur Di Spirito Kali alega que os clientes são inocentes e que houve erro no processo. “Meus clientes são completamente inocentes da acusação e o processo tem vários vícios. Um deles é que não foi permitida a defesa se pronunciar em momentos-chaves.” O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) afirma que ainda não recebeu nenhuma apelação.