Título: Alimentos ainda são a maior ameaça
Autor: Choucair, Geórgea
Fonte: Correio Braziliense, 22/02/2013, Economia, p. 8

Depois de uma onda de declarações desencontradas, que só contribuíram para aumentar a desconfiança em relação à política econômica, o governo pisou no acelerador para reverter o pessimismo que está mantendo a economia no atoleiro. Ontem, depois de um curto, mas estratégico período de silêncio, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o governo não abrirá mão do controle da inflação, hoje uma das maiores preocupações da presidente Dilma Rousseff. “A situação inflacionária está sob controle”, disse, em conversa com analistas e jornalistas estrangeiros.

Ele reconheceu, porém, que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência para o sistema de metas de inflação, fechará 2013 em 5,5%, bem acima do objetivo perseguido pelo Banco Central. Admitiu ainda que o indicador está suscetível a choque de preços de commodities, sobretudo os de alimentos como a soja, o milho e o trigo. “Mas o Banco Central está ativo e vigilante”, assinalou, reforçando o alerta feito nesta semana pelo presidente do BC, Alexandre Tombini, de que os juros poderão subir caso os reajustes de preços se mantenham disseminados. Atualmente, 75% dos produtos e serviços pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estão sendo remarcados. O ideal é que esse índice de difusão fique em, no máximo, 60%.

Mantega destacou também que, a princípio, não há qualquer medida sendo preparada pelo governo para o mercado de câmbio. No entender dele, o real está “estabilizado” em relação ao dólar, variando entre R$ 1,95 e R$ 2, nível considerado aceitável tanto para o controle da inflação quanto para a competitividade das exportações. “O real está estabilizado. Não há nenhuma necessidade de adoção de medidas no câmbio”, garantiu. Na semana passada, ele havia garantindo que não é o câmbio, mas a taxa básica de juros (Selic), que está em 7,25% ao ano, o melhor instrumento para evitar o descontrole de preços.

Garoto-propaganda Além de reforçar o discurso de que o governo não está inerte ante a inflação, a conversa de Mantega com os analistas e jornalistas estrangeiros teve o objetivo de desanuviar o ambiente que lhe espera a partir da semana que vem em Nova York e em Londres, quando desfilará como garoto-propaganda do governo em encontros com investidores externos para vender o programa de privatização de Dilma Rousseff.

O ministro foi incumbido pela chefe de apresentar ao capital externo os projetos de concessões nas áreas de rodovias, portos, aeroportos e ferrovias que o governo prometeu colocar nas ruas ao longo deste ano. O Palácio do Planalto está convencido de que o dinheiro de fora será vital para viabilizar projetos de infraestrutura que ajudarão o processo de retomada do crescimento do país e a redução dos custos de produção.

Mantega está ciente de que será bombardeado de perguntas sobre câmbio, juros e inflação durante os encontros, que poderão ofuscar os objetivos do road show da privatização. Ao se posicionar ontem, o ministro acredita que esvaziou um pouco o tiroteio que estava sendo programado pelos investidores.

Gerdau decepciona Apesar de o governo apostar no aumento dos investimentos, o principal conselheiro da presidente Dilma Rousseff, Jorge Gerdau, anunciou ontem que vai reduzir em 17% os desembolsos para ampliação da produção em suas indústrias. Maior fabricante de aço das Américas, ele está inseguro com o cenário econômico mundial. Sua empresa teve queda de 70% no lucro líquido no último trimestre de 2012 em comparação com o mesmo período do ano anterior. A notícia pesou no Planalto, que trabalha para convencer os empresários a ampliar os investimentos produtivos e assim retomar o crescimento do país.